Inofensivo

“Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou
sublime.” Fernando Pessoa [Álvaro de Campos]

– A conversa que nunca houve faz falta. As ondas assobiavam na sua passagem. Tia Sueli, a mulher traída. Uma pilhéria de ossos e fendas. Abriam pele e carne, onde encontraram apenas coração. Esferas nos olhavam aquela noite. Olham tudo que está morto, ladeado de feéricas atitudes passíveis amordacei a colmeia, como comédia de costumes e erros, quem pensa após o jantar na rotunda sesta. Sabor de hibisco lavrava a mor te. Aquiles, nosso herói grego, descansava em terras morenas, cantilenas indígenas, peito da mãe virgem. Queria tanto para mim um Ser sem compromisso. Um Deus que me negasse isso ou aquilo, mas no final das contas fizesse as pazes comigo. Nisso todos morremos, vivemos também. Levita a Cordilheira dos Andes onde trafegam carícias e cicatrizes.

Inofensivo. Indefeso como um filhote gregário de cabra. Acode, acode, o vulcão vem rumando na palma da mão grossa de cigana, que é tua minha e anuncia o futuro próximo o fim agnóstico a ressurreição abitolada de gramas e grelos e carmas. Na cor irreconhecível. O manto fúnebre de rotos rostos. Perguntei à Bibi Ferreira, em entrevista nunca lhe ocorreu perguntar? Para transmitir é inevitável sentir? Conte-me sobre realismo e fantasia de uma atriz enclausurada na própria mágica mágoa máscara? Vaidade morde ou ladra ou range os dentes na latrina de manhã? Toco meus instrumentos. Cada um com uma unha do dedo. Cada um tem o PRÓPRIO MOVIMENTO. E a lata em varal sinto-me dentro dentro dentro. O peixe respira ininterruptamente. Credo cadê calejo? Ou no dilúvio de Deus: Santo Crime: unicórnios, cavalos, cabrestos, coretos, divórcios, casórios. A imagem e semelhança É IMAGEM. Imaginação. Criada. Servindo xícaras em cobres de atalaia. Cora jangada velha. Calha. Qualquer pessoa tem ilusão. Pulsão sexual. Etapas. Fumegadas no calor de um cigarro. Nada mudou. Desde que nos voltamos ao mesmo lugar. Cessa

Raphael Vidigal

Imagens: obras do artista plástico Wesley Duke Lee.