“Uma maneira simples de sentir a linguagem é quando ela falta.” Heidegger
Somente a proposta inovadora não seria suficiente para tornar “Memórias de Ana” um espetáculo interessante. O mérito reside justamente de que essa linguagem democrática e inclusiva usa dos gestos em sua qualidade cênica que, para além de informar, capta e distribui emoções. Pois é com sentimentos e sensações que se conta uma história. Protagonistas em cena, Dinalva Andrade e Andressa Miranda atravessam com segurança e delicadeza as nuanças da personagem, com destaque para o tom jocoso, e criam, ainda, uma relação harmônica entre si. Dinalva também participa da dramaturgia, ao lado de Allan Machado, que é, sem dúvida, o grande trunfo do espetáculo. Como foi dito, tudo é observado e tido como recurso cênico, extrapolando, assim, sua condição exposta. A função da arte é propor a liberdade, ou alguma libertação.
A trilha sonora criada e executada por Glauber Rodrigues e Felipe Rezende e a iluminação de Pierre Rodrigues convergem em favor da trama, pontuando seu ritmo e ampliando os efeitos no palco. A direção a cargo de Lenise Moraes e Oscar Capucho adota essa perspectiva poética em que o lúdico e a fantasia se impõem. Decisão que permite à mímica, o teatro de sombras, a linguagem brasileira de sinais (Libras), a música e até a aspersão de odores convivência plena em meio às memórias contadas, de que o espectador desconfia haver algo de real e outro tanto de imaginário, afinal trata-se de uma história comum, acessível a todos, não apenas em sua apreensão física, mas porque ela tem, sobretudo, a banalidade das estórias que acontecem sempre, e por isso tornam-se eternas. Aquilo a que a tradição chamou de “contos de fadas” e que, para além da moral, guarda sinônimo de identificação com a espécie humana.
Serviço
“Memórias de Ana”
Dramaturgia de Dinalva Andrade e Allan Machado
Direção: Lenise Moraes e Oscar Capucho.
Com Andressa Miranda e Dinalva Andrade.
Raphael Vidigal
Fotos e Vídeo: Suelen Thompson.
2 Comentários
Seu olhar sempre poético e delicado dá mais beleza ao mundo. Obrigada pela sua visão e generosidade de olhar!
Eu quem agradeço as palavras e, principalmente, a oportunidade de presenciar este espetáculo. Sucesso!