Análise: 10 anos de Inhotim, museu reconecta arte à natureza

“A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim: O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.” Manoel de Barros

Inhotim é reconhecido como maior museu de arte a céu aberto da América Latina

Reconhecido como o maior museu de arte a céu aberto da América Latina, o instituto Inhotim, localizado em Brumadinho, no interior de Minas Gerais, circula a sua, até aqui, exitosa trajetória ao comemorar 10 anos de história. Exitosa não apenas por que a efeméride é digna de aplausos, mas pelo fato de ter sabido construir, ao longo do tempo, um espaço de celebração da cultura quase sempre democrático. Além das exposições de arte contemporânea, principal cartão-postal do projeto conduzido pelo empresário Bernardo Paz, o instituto passou a produzir e oferecer também espetáculos de música, teatro, cinema, dança e a abrigar, inclusive, a literatura. Tudo isso, portanto, transformou o Inhotim em importante foco de debate e experiência cultural. Experiência esta, esteticamente, sempre ligada à natureza, verdadeiro diferencial da atração, para onde, de alguma forma, tudo converge, sempre. Obras célebres de Hélio Oiticica e Adriana Varejão têm por companhia tulipas, frondosas árvores e borboletas, além de uma infinidade de cantos de pássaros.

O que salta aos olhos e realmente torna o museu mineiro uma casa democrática e popular das artes, para franzir a testa de muitos entusiastas e teóricos da arte abstrata, não é, de maneira nenhuma, o possível choque e deslumbramento proposto pela arte contemporânea, mas uma outra característica sua: a de sugerir relações participativas, em que o espectador tanto é abrigado quanto abriga em seu próprio corpo o objeto artístico, no que entenda-se corpo como mente, alma ou braços. E isto ocorre mais pelo cenário criado ao redor das obras de arte do que elas mesmas. A possibilidade de entrar em contato com esta paisagem onde a riqueza de fauna e flora pode ser assimilada em toda a sua exuberância é fator que exerce atração incomum sobre seus visitantes. Pelo fato desta natureza, hoje, ser mais rara e impactante que muitas das tentativas humanas de contorná-la. Pois o Inhotim, mesmo que não o saiba, reconecta a vida aos primórdios, tempo em que natureza e arte eram uma só: como no mito grego sobre o amor de Andrógino.

Localizado em Brumadinho o Inhotim completa 10 anos em 2016

Raphael Vidigal

Fotos: Divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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