De peruca não entendo nada

“A vida se retrata no tempo
formando um vitral,
de desenho sempre incompleto, de cores variadas,
brilhantes, quando passa o sol.
Pedradas ao acaso
acontece de partir pedaços,
ficando buracos irreversíveis…” Maria Antonia de Oliveira

Georges Braque passou por vários movimentos artísticos

Só se chega desacompanhado. Gênero, título ou brasão são formas insuficientes de conhecer uma profundidade. Caminha distante, sublime, desconfiado, altera turbulências e emoções à indiferente paz. Tão longe, igual e sonolenta como as demais pessoas? A não ser uma igreja: vazia: uma gente: sozinha: uma chuva: escorrida e metálica. Escovada e precária como as demais pessoas, os açoites cotidianos, as remadas na beira do lago. A falta, cada vez mais presente onde se anda solitário, não se chega sozinho, sai-se pasmo. E, no entanto, afoito, e no princípio verbo, e no finito gasto calendário de palavras para a primeira e pacífica intenção: nada me deu de novo, apenas uma fome não saciada pulando dentro do estômago.

É que as coisas depois de madurarem encontram inevitavelmente o fim. Qual o mal: de vermos tanto medo: na apoteose intitulada: fim? Tão antigo e preso ás raízes que já nasceu, madurou, e então, morreu. Podre não pelo cheiro, mas pelo beiço que lambe a fruta no chão. É o que há para comer, o esquilo disse. Esconde o segredo do que é novo e cru, mas talvez não saibam. O paradoxo de ser antiga é que a desconhecem: tudo encontra tempo quando se torna póstuma. E perpetua. Parece-me já ter morrido. Só que sem glória. Tuas donzelas, rapazes outrora distintos, perambulam pelas vielas em busca duma manilha que os faça subir pelas bicicletas nesses morros altos, meros meninos: subam.

Em áridos pastos, árias, sonatas, para dar métrica, ritmo e até parágrafo: só que as manilhas: disritmia: pulam nos galhos: poeira, concreto, ventre: espalham pelos asfaltos: mania burra esta: de responder questionário: e colocar a pessoa: entre um parêntese: um quadro. Deste continente, esta península, tão velha quanto os mamutes, os antepassados dos elefantes jamais descobertos por Galileu: que previu a terra: redonda: e morreu calado. Calvos senhores que de peruca não entendem nada: mal reclamam de ti, que madurou, desmamou tarde, e agora vê, sem saber, dos sapos, passam entre seus seixos, desconhecidos e lagartos, é uma litorânea orla a espiar o mar: mas não entendo nada.

Georges Braque criou estilo único na pintura

Raphael Vidigal

Pinturas: Obras de Georges Braque.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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