A Música Livre e Sórdida de Claude Debussy

“Ver o dia nascer é mais útil do que ouvir a Sinfonia Pastoral (de Beethoven). Quando o senhor assiste a esse maravilhoso espetáculo cotidiano que é a morte do Sol, alguma vez já teve a idéia de aplaudir?” Debussy

Debussy

Foi ouvindo Debussy a minha loucura. Encontro-me num asilo, lenitivo, leniente. Imagino como deva ser um concerto de Debussy. Abro os olhos e ele está na minha frente. Letargia das almofadas fofas me faz espreguiçar igual ratazana extraviada.

Nunca se encontrará. São Paulo é uma cidade esplendorosa, se vista de longe. Como Górgona, te aliena e devora. Gárgulas ensaiam tudo quanto é lento. O trânsito da cidade, o martírio cauteloso dos pedintes rueiros. Bueiros aos montes. Vejo do átrio – uma janela caudalosa, e saio.

Agastado, cíclico, cilício, abriu a cancela capaz das reações mais inusitadas e das ilusões menos regradas (recatadas). Eu, tinha, essa, indagação, de, morrer, cedo. As, pessoas, iriam, ao, meu, enterro. Ninguém, veio.

Ao meu túmulo, sopraram somente rebeliões. Eu fui simplesmente o último a partir. Despretensiosamente, arguto, somado ao débito das flores com a beleza dos rios, deitei sobre o fratricídio. Guarda bem o segredo a te deter decadente. Ouvi pela última vez a última fada do tumulto fadado a enternecer, emagrecer, esperar.

Uma encosta: revelava: certa magia mística. Ajuda-me a desvendar enigma. Carrossel onipresente, avareza móvel. Mobília. Perplexo um torpor, a fuga das palavras, um casco, a bigorna, o obelisco. Vendado, enlameio no calabouço o enleio risível, indevassável, o mercúrio, o risco riscado, a lhaneza matutina como locomotiva nos avilta a mordaça!!!

Ajuda-me desvendar enigma. O texto está duro. Plana plena pluma. Livre, sórdida, humana. Grana graça gralha grasna. Samurai de oligarquias indócil. Quimera obstinada, um gamelão javanês a repique arrebanha a reboque.

As mãos mergulhadas em compotas se mexem, reviram tintas, preparam misturas. Amarelo o Sol.

Claude-Debussy

Raphael Vidigal

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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