“A tragédia é o estado natural do homem.” Lúcio Cardoso
Geraldo Azevedo tenta debater-se contra as águas lamacentas, poluídas, sujas, dum outrora paradisíaco e transbordante em peixes, rio São Francisco. A luta não é vã, lega-nos clássicos, daqui um tempo estimados com a devida consequência, afora os que já o são, peças de Luiz Gonzaga, principalmente.
Por hora, o povo impacienta-se, irritado, irascível, pede os mesmos momentos, velhos costumes, manias. Não é culpa de Geraldo Azevedo que se acostume o público a tão belas canções que estes só queiram ouvi-las. A conta cabe à plateia, pouco atrevida, preguiçosa, recusa-se a apreciar o inédito.
Noutra esfera, a iluminação arrebata ao adentrar em cena o “Bicho de Sete Cabeças II”, número, a priori, instrumental, com o talentoso flautista de que negligencio o nome, a acompanhar os vértices e vértebras do animal monstruoso, recortados no complexo campo harmônico da guitarra de Azevedo.
Os forrós e os xotes para as donzelas, quase todas maliciosas e morenas, animam as pernas, imóveis até soar a sanfona fictícia, reproduzida em teclados, sopros, guitarra e baixo. Mas é o rio, o tão reprovado rio, a improvável causa em tempos egoístas, o astro irreconhecível.
Irreconhecível porque não lhe assentam os devidos aplausos, e hoje lhe cabem misérias, mazelas, tragédias humanas a engolir-se em blocos, como uma serpente deglutindo o rabo, sem perceber, entope-se. Esgoela até ser ouvido. Viram-lhe as costas. Erros de sempre, pecados bíblicos.
Raphael Vidigal
3 Comentários
Bicho de sete cabeça foi de arrepiar! Gostei da descrição e menção à iluminação, que estava fantástica!
Post do mineirinho querido…………Raphael Vidigal!!!! Tô falando, Minas é especial!!!?
Geraldo Azevedo tenta debater-se contra as águas lamacentas, poluídas, sujas dum outrora, rio S.Francisco