Valesca Popozuda no Museu de Paris

“A maioria das gentes vive de convicções e não de ideias.” Mario Quintana

Valesca-Popozuda

É daquele célebre desconhecido a frase sobre “o que falamos dos outros revelar mais de nós mesmos”. A recente celeuma provocada pela inclusão de uma pergunta sobre Valesca Popozuda numa prova de filosofia tem muito a esclarecer sobre esta tese. Parece-me mais revelador analisar a reação da sociedade em sua pretensa maioria do que a questão propriamente dita que é, sem dúvida nenhuma, mal formulada.

Em todo caso, lembra-me uma atitude um tanto mais ousada e bem empregada, que data do século passado, quando o artista plástico e poeta francês Marcel Duchamp enviou um urinol para o “Salão dos Artistas Independentes” de Nova York, na tentativa de exposição. À época rejeitada hoje a obra que confunde e prejudica muitos “artistas considerados modernos” figura entre as peças mais cobiçadas de um museu em Paris.

Guardadas as devidas e respeitosas proporções, é possível traçar um paralelo entre ambas as atitudes quando o professor de filosofia transfere Valesca Popozuda para o lugar em que o senso comum determinou não lhe ser de direito: o teste acadêmico, a própria academia, a intelectualidade, o espaço do conhecimento, numa empáfia típica da classe preconceituosa e em geral dominante de uma sociedade. E mais, atribuiu a esta o valor de “pensadora”, como Duchamp atribuiu ao urinol o de “arte”.

Sendo conceitos inteiramente subjetivos e elásticos a provocação é válida. Mais ainda, serve para explicitar o conservadorismo de pessoas que não aprenderam nada com Guimarães Rosa, nada com Adoniran Barbosa, ao acusarem Valesca de “falar errado”, atendo-se às questões rígidas, formais, perdendo a poesia da vida que não tem escala, escola ou molde. O importante é passar a mensagem, tocar as pessoas, provoca-las, isto Valesca tem feito muito melhor que os de gravata em gabinetes fechados.

Valesca-Popozuda-filosofia

Raphael Vidigal

Compartilhe

Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Email

Comentários pelo Facebook

5 Comentários

  • “atendo-se às questões rígidas, formais, perdendo a poesia da vida que não tem escala, escola ou molde. ”
    citando a poesia com poesia… “metalinguagem”

    Resposta
  • Interessante o texto, na “Cult” do mês passado tem um artigo sobre ela, preciso encontrar!!

    Resposta
  • Ótimo texto! Só discordo, se me permite, quando diz que a questão foi mal formulada. Mas não invalida em nada o conteúdo, com o qual concordo.

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Recebas as notícias da Esquina Musical direto no e-mail.

Preencha seu e-mail:

Publicidade

Quem sou eu


Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

Categorias

Já Curtiu ?

Siga no Instagram

Amor de morte entre duas vidas

Publicidade

[xyz-ips snippet="facecometarios"]