“Uma coisa pode ser muito triste para ser crível ou muito má para ser crível ou muito boa para ser crível; mas ela não pode ser tão absurda para ser crível, neste planeta de sapos e elefantes, de crocodilos e peixes-espada.” G. K. Chesterton
Não é de hoje que a publicidade se vale do humor. Artifício esse muito usado para situações delicadas, constrangedoras, e até enfadonhas. Não representa novidade dizer que o humor é uma das melhores linguagens para chegar até as pessoas. Porquê ao contrário da seriedade, do didatismo e do drama, a forma cômica está imbuída de sutileza. A crítica, por exemplo, a vê com bons olhos, não apenas pelo aspecto de esconderijo, mas pela facilidade de aproximação. Em via de regra, a ironia ofende menos do que o sermão. A embalagem diz tudo. E como esse é o princípio da publicidade, rola solta nas propagandas dos anúncios “Bom Negócio” com Sérgio Mallandro, Compadre Washington e outros.
Mas se é usada por tantos e de tantos modos, a comédia, em determinada medida, se torna rala. Há um diferencial nos anúncios do “Bom Negócio”, que são justamente os seus protagonistas. No Brasil existe uma categoria de artista “quebra-galho”, aquele bom de “gambiarra”, “faz-de-tudo”. No país dos ditados, nada mais apropriado e popular. Estas figuras não chegam a ser celebridades por um detalhe: a despretensão, o senso de ridículo, a ausência de gravata e gravidade em seus closets. Há algo de insólito em cada um deles. Mesmo a socialite Narcisa ri de si própria. E esta é uma qualidade cada vez mais rara e digna de aplausos. Especialmente numa cultura em que rir é falta de respeito, mas que com o choro ninguém se ofende.
Essa noção de desespero, muitas vezes, é espremida até a última gota para dobrar a audiência, através de demagogia e exploração do sonho e da esperança alheia. Se é para vender a rodo, que seja enxugando o riso e não as lágrimas. Para completar há algo de politicamente incorreto e genuíno no discurso dessas personagens que muito bem faz a um humor cada vez mais obediente e amarrado. O palhaço Tiririca, a travesti Rogéria e o ator pornô Alexandre Frota levam ao público um apelo espontâneo, autêntico, irreverente. Esse é a melhor contribuição dos anúncios “Bom Negócio”, real momento em que sua política de desprendimento e despojamento aflora. Mesmo que pense em encher o bolso.
Raphael Vidigal