*por Raphael Vidigal
“Ninguém nasce odiando as pessoas por causa da cor de sua pele, ou por seu passado, ou por sua religião. As pessoas aprendem a odiar e, se elas podem aprender a odiar, elas também podem aprender a amar.” Nelson Mandela
Não tem cor. Não é a ausência ou presença absoluta. Não tem peso. Não levanta vôo ou afunda. Não tem tamanho. Os pés não estão na terra nem a cabeça nas nuvens. Não tem corpo. Nem está morto. Vive no mundo, apesar de tudo. Não é velho, novo, gasto, contemporâneo. Não é de espécie nenhuma: mamífero, molusco, planta. E posso dizer como digo, ainda que proibido fosse: que Nelson Mandela é um homem. Afirma aos homens para viverem como homens, mulheres, crianças: sem peso, tamanho, cores, espécies, nomes: Amem-se.
Meu Homem [Carta a Nelson Mandela] (samba, 1988) – Martinho da Vila
Com o acompanhamento de Raphael Rabello no violão de 7 cordas, Martinho da Vila registrou em 1990, no álbum “Martinho da Vida”, a composição de sua autoria que já havia sido lançada dois anos antes, em 1988, por Beth Carvalho, esta no LP “Alma do Brasil”. Na canção o sambista descreve um sonho em que desfeito de preconceitos os ensinamentos do líder sul-africano, Nelson Mandela, são seguidos, até que no final lembra-se dos tristes tempos do “Apartheid” e roga para que um dia os sonhos sejam somente doces. “Meu Homem [Carta a Nelson Mandela]” combina em seu percurso melancolia e sensualidade, tanto na interpretação de Martinho da Vila quanto na de Beth Carvalho.
Oração de Duas Raças (samba, 1980) – Gérson Alves
Interpretada por Elza Soares no álbum “Negra Elza, Elza Negra”, em 1980, o samba de Gérson Alves, à época casado com a cantora, não menciona o nome de Nelson Mandela, mas faz referência óbvia às lições do mestre, com um discurso de igualdade entre negros e brancos no qual afirma: “Aqui somos todos iguais/ E quando acontece uma guerra/ Morre o negro e morre o branco/ Chora toda a humanidade/ Sem saber a cor do pranto/ A mente fica confusa/ A guerra é um desespero e não se escolhe pela cor/ Gente pra morrer primeiro”. A própria Elza Soares dedicou a canção ao líder sul-africano quando foi anunciada a morte de Nelson Mandela.
Mand’ela (MPB, 1996) – Chico César e Zeca Baleiro
De forma bem humorada e espirituosa a dupla de nordestinos Chico César e Zeca Baleiro, o primeiro paraibano e o segundo maranhense, criou em 1996 uma inusitada homenagem para o líder sul-africano Nelson Mandela. Lançada pelo mineiro Maurício Tizumba, em seu álbum de estréia “África Gerais”, no qual incluiu uma citação à cidade de Sabará, a canção usa e abusa do jogo de palavras para se referir à cultura negra em vários dos seus aspectos, além de uma impagável brincadeira com o nome do arcebispo da Igreja Anglicana, Desmond Tutu, um dos principais aliados de Nelson Mandela na luta para a implantação da paz e contra o “Apertheid”, o regime de discriminação racial contra negros e a favor dos brancos na África do Sul. “Mand’ela” foi posteriormente gravada por Chico César, um dos seus autores, no álbum “Cuscuz Clã”, no mesmo ano de 1996.
Axé de Olorum (axé, 1996) – Tuca, Wellington Epiderme Negra e Nego do Barbalho
O mais antigo bloco-afro da cidade de Salvador, na Bahia, foi criado em 1974 por Antônio Carlos dos Santos, conhecido como o Vovô, e Apolônio de Jesus, no bairro da Liberdade. Com participação na coletânea “Tropicália – 30 anos”, ao lado de nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé, Pepeu Gomes, Daniela Mercury e outros, o “Ilê Aiyê” lançou através dos compositores Tuca, Wellington Epiderme Negra e Nego do Barbalho em 1996 o “Axé de Olorum”, no disco “Canto Negro”. A canção, além de conter no nome uma referência ao Criador de acordo com a religião yorùbá, e discorrer ao longo de toda a letra sobre figuras e locais emblemáticos da história da África, não deixa de fora uma menção honrosa ao líder sul-africano Nelson Mandela, segundo contam acompanhados das batidas dos tambores: “E desde os tempos passados que os negros sofrem/ Mas reivindicam os direitos até a morte/ Ilê Mandela, Ilê Aiyê Mandela/ A felicidade lhe espera”.
Protesto do Olodum (axé, 1988) – Tatau
Um dos maiores sucessos carnavalescos de 1988, a música “Protesto do Olodum” contraria em muito a fórmula utilizada pela maioria para emplacar canções de axé no período. Com um texto forte que cobra melhorias do estado para a população nordestina em geral e de moradores do município de Cubatão, no interior de São Paulo, que sofriam com a poluição, e de Moçambique, assolada pela fome, a música de Tatau, um dos líderes do grupo Araketu, apela, como não poderia deixar de ser, ao exemplo de Nelson Mandela e Desmond Tutu na África do Sul. Regravada por nomes como Banda Mel, Margareth Menezes e Daniela Mercury, recebeu um registro com a presença das duas últimas mais o seu autor para a trilha do filme “Ó Paí Ó”, de 2007, estrelado por Lázaro Ramos e Wagner Moura e ambientado no Pelourinho, tradicional bairro de Salvador. A música foi lançada em disco no mesmo ano de 1988, em “Núbia Axum Etiópia”, pelo bloco-afro de carnaval posteriormente transformado em grupo cultural Olodum, criado em 1979 na capital da Bahia.
Nelson Mandela (MPB, 2000) – George Farias
Natural do estado do Ceará, o compositor, poeta e cantor George Farias mora em Boa Vista, capital de Roraima, há mais de 20 anos. Com uma presença ativa nas artes locais ele lançou em 2000, em seu segundo CD, “Guia”, a canção “Nelson Mandela”, um hino que traz aos ouvidos toda a contribuição do líder para a África do Sul e a população negra de todo o mundo. Com um suingue típico e gracioso George Farias manda o seu recado diretamente da região norte do Brasil, agradecendo, por todos, o legado de paz e compreensão deixado por Nelson Mandela.
Mandela (soul, 1990) – Guto Graça Mello e Ronaldo Barcellos
Em 1990, Sandra de Sá já havia acrescentado o “de” ao nome artístico, por uma questão de numerologia, e também era nome consagrado na cena da soul music brasileira. Com um histórico de canções que não cansavam de incensar o orgulho da cultura negra, a intérprete deu o seu pitaco na história de Nelson Mandela ao gravar no álbum “Sandra!” a composição “Mandela”, composta por Guto Graça Mello e Ronaldo Barcellos. Com a habitual agilidade e leveza Sandra conduz o ouvinte ao percurso de paz e liberdade plantado pelo líder sul-africano no continente da África e em outros lugares do mundo, como o próprio Brasil e Portugal.
Júri Racional (rap, 1993) – Mano Brown
O grupo de rap paulista “Racionais MC´s” mantém a linguagem forte e agressiva no manifesto “Júri Racional”, canção composta por Mano Brown e lançada no álbum “Raio X do Brasil”, em 1993. Nela, em meio a uma interessante batida eletrônica, a letra faz referência a diversas demandas do quarteto, e em determinado momento lembra a admiração a Nelson Mandela e Spike Lee, dois defensores da cultura negra no mundo.
Lido na rádio Itatiaia por Acir Antão em 15/12/2013.
6 Comentários
Muito boa matéria, Raphael! Parabéns. Axé!
pra q odio se amar e bom de mais
esse foi o cara, merece ser lembrado pela eternidade, e esperar que um dia apareça um outro Mandela no mudo, vai com deus irmão.
‘Depois de ficar 27 anos preso injustamente, ele ao ser libertado, se torna mandatário de seu país e ao invés de revidar fazendo uso do seu poder constituído de maneira legitima, Ele faz a integração das raças vivenciando o maior dos ensinamentos do Cristo, quando nos pede que se pague o mal recebido com o bem.
Essa é uma prova, que o Criador envia emissários à todas as partes do planeta, independente de credo ou raça, todos vivenciando os ensinamentos do Cristo, provando mais uma vez que, o amor de fato cobre a multidão de pecados.’
Líder dos Líderes.
Homenagens ao Rei Negro….
Valeu Raphael Vidigal,,,,,,aquele abraço negão….