Entrevistas: Simone Zuccolotto e Paulo Mendonça celebram 20 anos do Canal Brasil

“Se quiser, banco o francês
Quase tão bem como ele.
Sou brasileiro, bem sei,
Mas sou mais universal.” Murilo Mendes

Malabarismos automobilísticos e consultas de ocultismo. Foi assim que o Canal Brasil “começou”, há 20 anos, num dia 18 de setembro de 1998. A descrição corresponde à sinopse do primeiro filme exibido pela emissora. “Sonho Sem Fim”, dirigido por Lauro Escorel, não por acaso contava a história de um dos precursores do audiovisual no país: o gaúcho Eduardo Abelim, que, para conseguir produzir seus filmes, subia em veículos em movimento e jogava cartas para adivinhar o futuro. Como o protagonista, a trajetória do Canal Brasil também se firmou nesses três pilares: pioneirismo, resiliência e coragem. Confira abaixo as entrevistas com a apresentadora Simone Zuccolotto e o diretor-geral do canal, Paulo Mendonça.

Simone Zuccolotto
Apresentadora

1 – Qual a principal contribuição do Canal Brasil para a cultura nacional como um todo?
O Canal Brasil é de extrema importância para a cultura nacional porque é resistência e resiliência. É estandarte de educação e cultura nacional, especialmente cinema e música. Agora em novembro, estreia a série “De semelhanças e coincidências”, de quatro episódios que dirigi para o Canal, na qual trato basicamente de arte e política, cinema e política e as questões identitárias na discussão e reflexão do cinema brasileiro contemporâneo.

2 – Qual a importância do Canal Brasil para o cinema brasileiro nos dias atuais e na consolidação de sua história?
O Canal Brasil é incentivador do cinema nacional e, hoje, sobretudo um produtor. Chegamos ao número de 306 coproduções contratadas. A diversidade do cinema brasileiro que está em cartaz no Canal Brasil é reflexo da produção nacional e sem dúvida o Canal vem contribuindo e colocando tijolinhos na construção dessa identidade nacional através do cinema.

3- Quais foram as principais mudanças que o canal sofreu nesses 20 anos e o que permanece nele desde o início?
Acho que a essência do Canal permanece, um meio de comunicação livre e libertário, que congrega opiniões diversas e por isso fortalece a discussão e reflexão da arte, via cinema. As principais mudanças acho que foram promovidas pelo avanço das mídias sociais que foram incorporadas e agregadas para a difusão do Canal e do cinema brasileiro.

4 – Qual foi o programa mais importante do qual você participou no Canal Brasil para a sua vida e por quê?
Sem dúvida o Cinejornal e as séries “A mulher no cinema”, “Nas sombras do medo”, “Rir é o melhor remédio”, “De semelhanças e coincidências”, que dirijo para o Canal. É muito gratificante ser uma das vozes do jornalismo do Canal, que é único na abordagem do cinema brasileiro. Além, claro, das transmissões ao vivo das premiações de cinema e música.

5 – Além dos filmes, tem algum programa transmitido pelo canal que você goste mais ou considere fundamental para a cultura nacional?
Gosto muito do “O Som do Vinil”, que vem traçando, com a seriedade e sabedoria de Charles Gavin, a discografia brasileira, além de ser um pretexto para falar de música boa. Sem falar no excelente parceiro que Charles é, minha dupla na transmissão ao vivo do Prêmio da Música Brasileira.

6 – Qual a sua primeira lembrança ligada ao Canal Brasil? Outra marca do canal são as vinhetas. Qual é a sua favorita?
Uma sessão chamada “Como Era Gostoso”, que exibe, até hoje, pornochanchadas e comédias eróticas dos anos 70 e 80. Vinheta eu gostava muito de uma que tinha um bonequinho feito de quadradinhos e uma narração mega rápida do locutor contando o dia de um trabalhador e no final da jornada ele sentava para assistir ao Canal Brasil.

7 – O que ainda é possível melhorar para que o canal se torne ainda mais relevante?
Acho que o acesso, como a cultura brasileira que não chega aos brasileiros, não chega por falta de condições financeiros ou interesse. Acho que as mídias sociais são um caminho para uma abrangência maior.

Paulo Mendonça
Diretor-geral

1 – Qual a principal contribuição do Canal Brasil para a cultura nacional como um todo?
Penso que vinte anos no ar, dedicados exclusivamente ao cinema e à cultura brasileira em geral, tenham dado ao Canal Brasil uma significativa relevância no cenário cultural do país.

2 – Qual a importância do Canal Brasil para o cinema brasileiro nos dias atuais e na consolidação de sua história?
O canal teve, desde sua origem, a determinação de ser uma janela do cinema brasileiro na televisão por assinatura e à medida em que veio se consolidando nesse desafio, se tornou também, através de premiações a curtas metragens, da recuperação de cerca de 500 títulos e na coprodução de mais de 300 filmes, num importante personagem na história do nosso cinema.

3- Quais foram as principais mudanças que o canal sofreu nesses 20 anos e o que permanece nele desde o início?
O canal, que a princípio concebia uma grade de programação composta exclusivamente de filmes brasileiros, entendeu que ao se chamar Brasil não poderia ter ausente de sua tela a música brasileira. O que nos levou a produzir, de 2004 até os dia de hoje, mais de 200 shows de artistas brasileiros, ou de buscar trazer ao seu cardápio o debate cultural através de programas conduzidos pelas melhores inteligências do país. Mudanças essas que não descaracterizaram o canal como a casa do cinema brasileiro.

4 – Como é a relação do Canal Brasil com a produção do cinema mineiro e, em especial, as produtoras Filmes de Plástico e Entre Filmes?
Com a exibição em nossa programação de filmes como os recentes “Quinze”, “Quintal”, “Rapsódia para o Homem Negro”, “Baronesa”, dentre uma série de outros, e de mostras pontuais de filmes mineiros, como a “Mostra Minas da Tela”. Recentemente o Canal Brasil se tornou parceiro da Filmes de Plástico na coprodução do filme “No Coração do Mundo”, de Gabriel Martins e Maurilio Martins.

5 – Além dos filmes, tem algum programa transmitido pelo canal que você goste mais ou considere fundamental para a cultura nacional?
Como um pai não consegue distinguir um filho do outro, eu, como diretor do canal, tenho o maior carinho e admiração por todos os nossos programas, cada um à sua maneira e formato. Mas, por estar recém estreado, estou ainda sob o encantamento do “Amigos, Sons e Palavras”, programa que o Gilberto Gil conduz aqui no canal. Mais uma pérola que o canal oferece ao público.

6 – Qual a sua primeira lembrança ligada ao Canal Brasil?
A primeira lembrança que ocorre, com muito carinho, são das reuniões que nós, os sócios do canal, tínhamos para discutir a possibilidade de criação de um canal com as características do Canal Brasil e das contas que tive que fazer para evidenciar a sua viabilidade econômica.

7 – Outra marca do canal são as vinhetas. Qual é a sua favorita?
A atenção para as vinhetas do canal ocorreu com a intenção de criar um intervalo entre programas criativo e divertido, uma vez que o canal não gozava de muita atenção publicitária. Como não tínhamos também um alcance muito grande, o intervalo diferenciado buscava ser uma forma de retenção do espectador que eventualmente viesse a passar pelo canal no meio de um intervalo comercial, já que tínhamos convicção quanto ao interesse que o programa que viria a seguir despertaria. Terminou que as vinhetas se tornaram uma marca de identidade do canal. Difícil escolher uma como favorita, já que muitas delas foram premiadas em festivais nacionais e internacionais, mas tenho um especial carinho pela da bandeira. É antológica.

8 – O que ainda é possível melhorar para que o canal se torne ainda mais relevante?
Conseguir transferir para as plataformas digitais a identidade e a personalidade que o Canal Brasil conseguiu ter no ambiente linear.

Raphael Vidigal

Fotos: Canal Brasil/Divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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