Entrevista: Valesca Popozuda exalta a liberdade sexual da mulher

“Demoro a aprender
que a linha reta é puro desconforto.
Sou curva, mista e quebrada,
sou humana. Como o doido,
bato a cabeça só pra gozar a delícia
de ver a dor sumir quando sossego.” Adélia Prado

Na linha evolutiva da música sexual brasileira, é possível dizer que, entre Rita Lee e Karol Conka, o funk de Tati Quebra-Barraco, Deize Tigrona e Valesca Popozuda se impôs como ponto nevrálgico. No começo dos anos 2000, Tati foi a responsável por entoar os versos “se eles quer que você mame/ manda eles te chupar”, invertendo a lógica estabelecida pelo universo machista. Valesca Popozuda, intérprete de “Quero Te Dar”, fala de sua experiência: “A liberdade feminina sempre existiu, só que era medrosa. Eu quis libertar as mulheres. Por que não falar do nosso órgão genital?”, questiona a artista. Confira a entrevista com Valesca na íntegra. 

1 – Quais as principais mudanças você sente do momento em que lançou músicas como “Quero Te Dar” e “My Pussy É o Poder” para o agora e no que acha que elas contribuíram para que outras mulheres cantassem o próprio desejo sexual em canções, como Karol Conka, Iza, Flaira Ferro e até a veterana Elza Soares?
A liberdade feminina na verdade sempre existiu, só que era medrosa. Quando comecei a cantar que ‘my pussy era o poder’, eu quis libertar esse medo nas mulheres. Por que não falar do nosso próprio órgão genital? Qual problema havia nisso? E, hoje, eu vejo que não se tem mais esse medo de dizer que também temos voz.

2 – Na sua opinião, porquê o sexo é um tema recorrente no funk e qual a diferença de quando um homem compõe uma música com teor sexual em relação a quando uma mulher compõe sobre o mesmo tema?
O sexo não é recorrente, mas o funk é um estilo musical onde você tem uma liberdade muito grande de falar sobre assuntos que, até então, são tabus em outros ritmos. Para o homem falar de sexo é legal, ele é o garanhão, ele é o bom! Mulher quando fala é a ‘vadia’, é a ‘vagabunda’. Se criou um mito de que só o homem podia falar de sexo.

3 – Você sentiu influência de alguém na hora de escolher essas canções que fazem parte do seu repertório?
Nunca senti influências, eu escolhia o que eu queria cantar, chegava para quem iria escrever e falava: ‘quero falar de como a minha pussy é meu orgulho’. Mas eu pensava muito em lá atrás, de quando via mulheres poderosas se colocando perante a sociedade. O tabu em cima da sexualidade feminina diminuiu muito, porém permanece naquele patamar, sabemos que as mulheres gozam, mas elas não precisam contar isso!

4 – Tem planos de lançar outras músicas com essa temática e mudaria alguma coisa nas que já cantou?
Não mudaria nada do que eu cantei, e tenho planos, sim, de vir com uma música com a temática da liberdade sexual feminina.

5 – Embora haja preconceitos da crítica em muitas vezes, as músicas de funk com teor sexual fazem enorme sucesso popular. Qual a razão disso?
Talvez a curiosidade em cima do tema gere isso, porque muitos não querem falar no assunto, mas querem muito saber a respeito.

6 – Como a sexualidade era abordada no seu convívio familiar? Você teve mulheres que te inspiraram a ser livre sexualmente e não ter vergonha do próprio prazer?
A minha mãe é a minha maior referência, ela que me ensinou a ser a Valesca de sempre.

Raphael Vidigal

Fotos: Márcio Mercante/Divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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