“Quando for fazer um agrado a um amigo ou a uma criança, dê-lhes o que eles gostam, nunca o que seja bom para eles.” G. K. Chesterton
Um dos conceitos básicos implementados pela dramaturgia clássica foi a criação de tipos. Ou seja, a congregação de características ao mesmo tempo diversas e complementares. É possível percebê-la, sobretudo, na comédia, de que são exemplos os filmes dos Irmãos Marx e dos Trapalhões, em que se distingue nitidamente na versão brasileira a presença marcada do nordestino, do negro e sambista do morro, do carioca metido a galã e do homossexual infantil. Conformação que atende às novelas românticas e até as chamadas “mesas redondas”, inventadas na televisão brasileira para o debate esportivo. Nelson Rodrigues, João Saldanha e Armando Nogueira protagonizaram uma das mais emblemáticas do gênero. O “Papo de Segunda”, transmitido pelo canal fechado GNT na segunda-feira das 22h às 23h, não foge a esse contexto.
Em tese temos o músico, o escritor, o ator e o apresentador, três da velha-guarda e um da nova geração, mas, na prática, todos atuam como autênticos humoristas. E é essa a graça, em sentido amplo, do programa. Independente do assunto escolhido para debate, João Vicente de Castro, filho do genioso Tarso de Castro; Xico Sá e Léo Jaime, todos sob a batuta e intercepções perspicazes de Marcelo Tas, são capazes de lançarem um olhar novo, enviesado, aberto ao contraditório, revelador, irreverente e, acima de tudo, cômico da realidade ou, principalmente, da imaginação. Feita sob a percepção do improviso de que favorece o fato de ser “ao vivo” a atração garante ao espectador intimidade e aproximação, como se participasse de um bate-papo entre amigos no bar. O que aparenta ser, efetivamente, esse quarteto unido e díspar.
Raphael Vidigal
Fotos: Divulgação.