Análise: 80 anos de Zé do Caixão, rei do terror nacional

“como se estivesse tentando escapar do sopro sufocante de um pântano ou do hálito pestilento de uma praga.” Edgar Allan Poe

ze-do-caixao

Se é verdade que o Brasil nunca teve tradição em cinema de terror, também o é que um de seus cineastas mais tradicionais pertence ao gênero. Afora as características da originalidade e raridade, que já garantiriam vulto à obra de José Mojica Marins, colado à personagem que criou para realizar o desejo de filmar histórias mórbidas; é, sobretudo, a abordagem que sugere para Zé do Caixão lugar de destaque em nossas artes. Rogério Sganzerla teve a sabedoria de utilizá-lo como ícone em películas de seu “Cinema Marginal”, valendo-se de sua figura mítica, enquanto Ivan Cardoso sofreu influências do estilo de interpretação francamente marcada e caricatural. Nisso tudo o caráter brasileiro de folclores e lendas impõe-se sobre universo de escuridão pouco identificado à terra.

Zé do Caixão pertenceu, em certa época, ao imaginário coletivo tanto quanto Lobisomem, Curupira, Cuca, Mula Sem Cabeça, Boitatá e Saci-Pererê. Tornou-se mais um desses seres bizarros que traduzem a maneira gaiata do povo brasileiro de explicar seus medos. Para isso cuidou com zelo de aspectos essenciais à personagem, em especial no que diz respeito à sua elaboração concreta. Ou seja, mais do que a voz ou os textos, além das frases de efeito, Zé do Caixão é temido e reconhecido pelo feitio mais caro à nossas lendas e que sobressai em todo e qualquer filme de terror. O monstro só é monstro pela capacidade de abominarmos o que nele é palpável, no caso as unhas enormes, compostas com os trajes negros, a cartola e as menções simbólicas à caveira nos anéis e em amuletos.

Por essas e outras Zé do Caixão dificilmente perderá o posto de rei do terror nacional, já que encarnou nossos demônios com sangue de verdade, embora em vermelho canhestro e tosco. Pois é da precariedade que a beleza surge.

ze-do-caixao-analise

Raphael Vidigal

Fotos: Arquivo e Divulgação.

Compartilhe

Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Email

Comentários pelo Facebook

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Recebas as notícias da Esquina Musical direto no e-mail.

Preencha seu e-mail:

Publicidade

Quem sou eu


Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

Categorias

Já Curtiu ?

Siga no Instagram

Amor de morte entre duas vidas

Publicidade

[xyz-ips snippet="facecometarios"]