Sucessos da Porta dos Fundos

“Dizem que quando o Criador criou o homem, os animais todos em volta não caíram na gargalhada apenas por uma questão de respeito.” Millôr Fernandes

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Propor o riso através da ironia, do achincalhe, sarcasmo, ofensa, maneiras variam e estratégias idem. Mas na essência está preenchido: o ridículo. Afinal a vida dita trágica é conferida de alguma gravidade, enquanto a oposta: o contrário, justamente a banalidade da existência humana leva a aceitarmos graças. O grupo de comediantes e roteiristas reunidos em torno do projeto-empresa “Porta dos Fundos” não se restringe a um único tipo de humor; fruto da heterogeneidade dos envolvidos, cujas escolas e referências mistas auxiliam na saudável geleia geral vista na tela da internet.

O poder de síntese do estilo, tendo o humor como modelo linguístico e, sobretudo, de estética, é utilizado com rara competência; assim como no rock, onde o fundamental, em se tratando de clássico, é o riff. Extrai-se daí um dos trunfos da companhia: os atores, alguns deles, notadamente Gregório Duvivier, Luis Lobianco, Júlia Rabello e Fábio Porchat detém um leque amplo de recursos dramáticos, desde os mais básicos como alteração de voz e fatores concernentes a habilidades físicas até instrumentos sutis de envio da mensagem implícita, apropriando-se de caricaturas e remodelando-as.

A astúcia para colher assuntos e lançar sobre eles um olhar histriônico é outro motivo de êxito da gangue. O texto raras vezes é previsível, adotando o discurso nonsense, provocativo, transgressor, sugestivo, hilário, banal e até grosseiro. No mesmo esquete os personagens migram da delicadeza e perspicácia; exigindo do interlocutor uma dose de conhecimento prévio (exemplos: Clarice Falcão em “Deus” ao citar o pastor Silas Malafaia; Antonio Tabet ungido do “sem vandalismo” e Luis Lobianco do “não é pelos 20%, mas o que representa moralmente” em “Reunião de Emergência”, etc.) ao palavrão.

A fórmula do sucesso parece, então, mais fácil de ser explicada, afinal quem não se divertir com as alusões a contextos históricos e sacadas ariscas, rirá com voracidade dos xingamentos baixos dirigidos a autoridades idem, ou nem isso, mas além do acolhimento por parte de incontáveis públicos ao humor da “Porta dos Fundos” está a qualidade do produto, e porque não dizer, arte, que tem em Ian Sbf, João Vicente de Castro, Gabriel Totoro, Gustavo Chagas, Letícia Lima, Marcos Veras, Rafael Infante, Marcus Majella, e os já citados, o aparato contra o dedo da seriedade e a cara feia.

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Raphael Vidigal

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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