Crítica: O melhor e o pior do humor no Brasil

“‘os flamingos e a mostarda são picantes. E a moral disso é… ‘Pássaros da mesma plumagem andam em bando’.” Lewis Carroll

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Não é fácil praticar humor e manter a elegância. Muitos já disseram se tratar esta da mais difícil arte dramática. Se vários conseguem alcançar o mérito, outros patinam e até afundam no gelo e na lama por pura falta de talento, a que ingenuamente denominam “liberdade de expressão”. A discussão sobre a comédia no Brasil precisa ultrapassar a barreira do correto e errado e chegar ao que realmente importa: o que tem graça e o que não tem.

Claro que se trata de um corte subjetivo, mas assim como existem piadas prontas, ditados populares, que só repetem o óbvio, há as que surpreendem e exigem do telespectador certa dose de ironia, audácia, sarcasmo, e dispensam a grosseria simples com que se acostumaram certos nomes como Danilo Gentili, Rafinha Bastos, e outros cujo repertório baixo representa o que há de pior no humor do Brasil. Não são atores, nem coringas, mas celebridades.

E é dessas celebridades que eles fazem troça apontando defeitos e perpetuando o senso comum como insipientes caçulas deste baralho. A falta de referência teatral e literária de ambos ajuda a sustentar a tese. Ao contrário do que ocorre com os melhores nomes da cena do humor no Brasil, como toda a trupe da “Porta dos Fundos”, Paulo Gustavo, e o pessoal do “Junto & Misturado”. Por outro lado há o humor do bem, de família, que beira a pieguice.

É o exemplo do seriado “Divertic´s” da Rede Globo, aonde chega a ser constrangedor o papel a que comediantes de talento como Luiz Fernando Guimarães e Rafael Infante se submetem. É ridículo no pior sentido do humor. Da mesma maneira Paulo Gustavo por vezes exagera na personagem exaltada, e Bruno Mazzeo também dá lá as suas lições de moral nas inserções em que é ele mesmo, ao lado dos colegas, em “Junto & Misturado”.

Destaca-se deste último o heterogêneo time de atores da segunda temporada, formado por Fabíula Nascimento, Luís Miranda, Letícia Isnard, Renata Castro Barbosa, Débora Lamm, Marcelo Médici, Augusto Madeira, Fernanda de Freitas, Kiko Mascarenhas, Rodrigo Pandolfo, Heloísa Perissé, e a surpreendente Gabriela Duarte, todos em sintonia com o texto afiado e na procura do absurdo em situações cotidianas, em especial no universo brasileiro.

A essas figuras em que se constata o que há de melhor no humor do Brasil juntam-se nomes de outras décadas e ainda em atividade, como Jô Soares, Miguel Falabella, Marília Pêra, e Jorge Loredo, e os já saudosos Chico Anysio, Mussum, Zacarias, e é claro, sem esquecer dos clássicos, Grande Otelo e Oscarito. Sobretudo percebemos neles a arte de apontar o quanto a tragédia é uma grande piada, com a fina elegância de um Truman Capote.

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Raphael Vidigal

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4 Comentários

  • Triste perceber que o público desses pseudo-humoristas se riem de suas próprias condições sociais injustas e nem se dão conta disso… Consideram parte de um todo que não condiz com o discurso desabonador que tanto vitimiza as ditas minorias.

    Resposta
  • HOJE AMAIORIA DOS HUMORISTA ESTAO APELANDO SOU ATOR TENHO HUMOR NAO GOSTO DE APELAÇAO O ARTISTA TEM QUE SER NATURAL TENHO D V D GRAVADO EM PEÇAS DE TEATRO FEITA NA HORA . NAO SOU FAMOSO MAS TENHO TALENTO.

    Resposta

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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