Crítica: nova temporada de “Pé na Cova” combate preconceitos com didática

“nem vida nem morte é a resposta.
E do homem buscando o bem,
fazendo mal. (…)
onde andavam os mortos
e os vivos eram feitos de cartão.” Ezra Pound

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Miguel Falabella conta que a inspiração para a série “Pé na Cova” veio com a experiência da própria velhice. Com o envelhecimento do ator e criador, a série chega também à sua quarta temporada em 2015, que será a penúltima. A última está prevista para 2016. Não muito diferente das anteriores, a atração busca combater preconceitos, mas resvala invariavelmente no didatismo.

Falta para os diálogos uma construção que torne as frases mais naturais e menos ensaiadas, ou seja, a alusão pode ser feita ao esporte ou ao humor clássico, de esquetes e quadros, quando o dito “escada” prepara a jogada para que o artilheiro “corte”. O problema nesse tipo de humor é a previsibilidade e a noção de distanciamento com o espectador, como se ele assistisse a uma aula.

Há, sobretudo, problemas estruturais na trama, como o elenco inchado e cada vez mais disperso. As personagens se perdem (literalmente, é um desperdício ver Mart’nália, que interpreta “Tamanco”, cada vez mais de canto) em enredos que parecem estar ali apenas para servir de esteio ao discurso de Falabella, e raramente se conectam de maneira harmônica e estável.

Este, parece se ressentir ainda das críticas feitas ao seu outro seriado, “Sexo e as negas”, e não se escusa em usar o texto para desabafar. Existem, porém, boas sacadas, que poderiam ser mais bem aproveitadas, não fosse o tom melodramático e com tendência à pieguice. A trilha sonora atua para elevar a qualidade do seriado, e, em especial, a música de abertura.

É nítido o bom entrosamento entre Marília Pêra e Falabella, que garantem, quando atuam juntos, os melhores momentos da série. A isso se une o excelente tempo de comédia dos dois intérpretes – ela no papel da maquiadora Darlene e ele como Ruço – e o texto que lhes é atribuído não por acaso contém um humor mais inteligente, menos rançoso e mais crítico.

A afetividade do elenco, formado ainda por nomes como Diogo Vilela, Luma Costa, Lorena Comparato e Daniel Torres, contagia e passa para o espectador. Se as questões de gênero, raça e sexualidade forem expostas com a desenvoltura de um strip-tease, que adorna seu conteúdo com uma provocação plástica e natural, “Pé na Cova” tem tudo para passar desta para uma melhor.

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Raphael Vidigal

Fotos: Divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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