Centenários 2017: Ella Fitzgerald, o estilo a serviço da emoção

“E ao redor de todas aquelas cenas pitorescas e modorrentas, acima das árvores e das casinholas e dos rios lamacentos, flutuava o calor, nunca hostil, apenas reconfortante, como um grande peito cálido e nutritivo, amamentando a terra ainda criança.” F. Scott Fitzgerald

Ella Fitzgerald, dama da canção

Não existe comprovação de nenhum parentesco sanguíneo envolvendo Ella Fitzgerald e F. Scott Fitzgerald, mas é certo que tanto a cantora quanto o escritor norte-americano tinham algo em comum nas funções que desempenharam ao longo da vida: o estilo conciso, elegante e, até certo ponto, discreto, marca o canto de Ella assim como a escrita do autor de “Um Diamante do Tamanho do Ritz” e outros contos notáveis. O que não significa que houvesse falta de sentimento, na verdade, em ambos os casos, o estilo estava a serviço da emoção, mas não entregue a ela, prova de uma consciência que, associada a experiências de vida, fornece aos ouvintes e leitores o que se considera uma obra de arte em música e na literatura. Ella teve uma infância pobre e, tal qual a nossa exemplar brasileira Elza Soares, vestia-se tão maltrapilha que quase foi recusada pelo famoso chefe da orquestra que a acompanharia por vários anos, Chick Webb. No caso, sempre como coadjuvante, pois o estilo vinha todo de Ella Fitzgerald, “a dama do jazz”.

Se muitos especialistas contestam o título, não é por falta de talento da intérprete, mas sim porque ela estendeu sua voz a praias muito mais amplas. Assim, há uma parcela considerável da crítica que julga o epíteto “dama da canção” mais acertado ao que foi a trajetória de Ella. Certamente o público não faria ressalvas à constatação, já que foi por ele e, muitas das vezes, assistida por uma multidão que a cantora embalou e eternizou os clássicos da canção popular norte-americana, indo dos irmãos Gershwin a Duke Ellington, com parada obrigatória em Louis Armstrong – uma de suas grandes referências – ao brasileiro Tom Jobim, evidenciando não apenas o parentesco do jazz com a bossa nova, mas, sobretudo, os laços afetivos das canções populares destes dois países, com forte contribuição da população negra trazida do continente africano. A limpidez da voz e a precisa emissão colocaram Ella num patamar único dentro da história da canção, só comparável, em termos técnicos e escala mundial, à aclamação de Frank Sinatra. E ela envolveu a música n’Ella.

Ella eternizou clássicos do jazz

Raphael Vidigal

Fotos: Arquivo e Divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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