Jerry Adriani moldou personalidade com versões românticas

*por Raphael Vidigal

“Doce, doce amor, onde tens andado
Diga por favor, doce, doce amor
Doce, doce amor, que eu vou te encontrar
Meu bem, seja onde for” Raul Seixas & Mauro Motta

É curioso notar que o cantor Jerry Adriani tenha influenciado artistas tão diferentes como Renato Russo e Raul Seixas. Embora ambos sejam associados ao rock ele exerceu sobre cada um impressões díspares. O que vem a revelar uma característica marcante da trajetória de Jerry. É difícil defini-lo não pela amplitude de seu estilo, mas, justamente, porque este foi moldado a partir de um repertório que procurou abarcar várias vertentes.

Associado à Jovem Guarda, Jerry é, sobretudo, um cantor romântico. Nesse sentido, tanto a canção italiana que seduziu o líder da Legião Urbana quanto a sensualidade rebelde de Elvis Presley presente na gênese de Raul Seixas convergem para a mesma direção: a passionalidade. É certo que Renato a compreendia de maneira sincera, emocionada, tal como Jerry, ao passo que Raul se valia do sentimento para desferir suas ironias ferozes e inteligentes sarcasmos. Não é o caso de “Doce, doce, amor”, música que Seixas e Mauro Motta escreveram para o já consagrado Adriani no ano de 1972.

Tempos depois, quando Raul já havia falecido, a condição inverteu-se, e foi a vez de Jerry compor em homenagem ao amigo a canção “O Cavaleiro das Estrelas”, em que lançava mão de perspicaz sacada. “Raul ao contrário é luar”, dizia a letra. Nesta altura, Seixas ganhava o status de mito, enquanto a ascendência de Jerry sobre as gerações posteriores decaía. Se não representava mais a figura de força que, inclusive, protagonizou filmes e apresentou programas de televisão no auge da Jovem Guarda, Jerry manteve espaço que demarcou pelo fato de ter moldado sua personalidade a partir de versões.

Ou seja, canções que já eram clássicas quando chegaram à sua voz, casos de “Querida”, tradução para “Don’t Let Them Move”, da dupla Garret e Howard feita por Rossini Pinto; e “Um Grande Amor”, originalmente “I Knew Right Away” de Cogan e Foster, adaptada por Romeu Nunes. Na confluência de vários mares, Adriani manteve a potência vocal e a canastrice da interpretação como trunfo para dar ao público estilo que só seria possível na mistura entre o português, o inglês e o italiano. Uma diversidade única.

Jerry Adriani cantou versões para vários sucessos

Fotos: Divulgação; e Rodrigo Meneghello, respectivamente.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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