3 músicas brasileiras para Tiradentes

“Ele representava o eterno dissidente, o constante inconformado, o eterno rebelde.” Reinaldo Arenas

Tiradentes foi retratado na música de Minas

Símbolo da insurgência por sua atuação destacada na Inconfidência Mineira – mártir e principal símbolo do movimento – o alferes Joaquim José da Silva Xavier teve sua trajetória retratada na música, no cinema, na literatura, no teatro e nas artes plásticas, dentre outras manifestações culturais igualmente populares, tanto que o apelido tornou-se, inclusive, nome de cidade mineira: Tiradentes. Especificamente na canção, o rebelde Tiradentes foi exaltado em forma de samba-enredo, usado em paródia carnavalesca e cantado com lirismo numa valsa cuja matriz principal é o chorinho. Seja como for, sua imagem permanece levando para gerações a premência da liberdade, ainda que tardia.

Exaltação a Tiradentes (samba-enredo, 1949) – Mano Décio da Viola, Estanislau Silva e Penteado
“Exaltação a Tiradentes” nasceu de um sonho do sambista Mano Décio da Viola, que agregou aos versos recebidos durante a noite outros propostos por Estanislau Silva e Penteado. Antes da consagração, Décio e Silas de Oliveira haviam oferecido três sambas com o mesmo tema para a Escola de Samba do Império Serrano. Passada a frustração, a música foi cantada na avenida em 1949, mas só chegou ao disco em 1955, na gravação de Roberto Silva. Outros intérpretes não menos tarimbados a registraram posteriormente, dentre os quais Jorge Goulart com seu vozeirão e a irrepreensível Elis Regina, além de Maria Creuza, Cauby Peixoto e Mestre Marçal. Pioneiro, como o seu inspirador, é considerado o primeiro samba-enredo a ultrapassar os limites carnavalescos.

Minas ao Luar (choro-valsa, 2012) – Waldir Silva, Raphael Vidigal e André Figueiredo
Choro lento, ao ritmo de uma valsa, “Minas ao Luar” foi composta pelo cavaquinista mineiro Waldir Silva na década de 1970 para servir de prefixo musical ao evento que levava apresentações pelo interior de Minas. Waldir não só participou da primeira edição do projeto de serenatas como dividiu o palco com ninguém menos do que Juscelino Kubistchek, figura ilustre da política brasileira que ocupou o cargo de presidente do país. Muitos anos depois, o instrumentista apresentou suas composições autorais para que o jornalista Raphael Vidigal colocasse letras, fato que aconteceu em 2012. Um ano depois, o músico faleceria, mas a iniciativa que começou ali culminou com o lançamento do disco “Waldir Silva em Letra & Música”, em 2016. Na canção, composta com André Figueiredo, a cidade com o nome de Tiradentes aparece.

Cuidado com o pescoço (marchinha, 2017) – Raphael Vidigal, Ronaldo Ferreira e André Figueiredo
Quando Cristo reuniu seus apóstolos para celebrar a Santa Ceia disse que seria traído por um deles, de acordo com as escrituras bíblicas. Joaquim José da Silva Xavier, também conhecido como o alferes Tiradentes não tinha a mesma consciência, tampouco o imperador romano Júlio César, apunhalado pelas costas pelo filho adotivo Brutus. De acordo com lógica vigente há quem diga que quem votou em Cristo votou em Judas, e quem votou em Tiradentes também votou em Joaquim Silvério, e assim por diante. Fato é que a história não costuma ser muito simpática a tais personagens, não por acaso malhadas em celebrações até hoje típicas nas cidades. Michel Temer, talvez, tenha calculado mal o peso do tempo, embotado pela fricção momentânea que a estimativa de poder é capaz de causar. Em cima agora, de baixo para sempre. Que a lição de Tiradentes permaneça com essa marchinha.

Tiradentes é símbolo da rebeldia

Raphael Vidigal

Imagens: Charges de Jarbas; e Laerte, respectivamente.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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