Centenários 2015: Frank Sinatra, a elegância e calma dos clássicos

“…Quem me faz uma letra para a voz do vento?” Mario Quintana

Frank-Sinatra

Sinatra é um mito. Tanto que nem é preciso citar seu primeiro nome. Capaz de ganhar um Oscar e ter a figura associada à máfia italiana, “A Voz” disse a que veio principalmente na música. A lendária inspiração para uma das personagens do clássico “O Poderoso Chefão” é praticamente uma nota de rodapé na trajetória de Frank Sinatra, o que sugere a medida de seus calcanhares. Com um fraco para a autopromoção, o cantor foi exemplo de charme, elegância e interpretação, e soube unir, como nenhum outro astro, as linhas que em geral separam indústria e arte.

Americano, filho de imigrantes italianos, sendo o pai boxeador e analfabeto e a mãe uma dona de casa, Sinatra surgiu na década de 1940, e experimentou um movimento vertiginoso na carreira, com raros momentos de estabilidade. O controle total do palco, dos gestos, do andamento da música, uma de suas marcas registradas, contrastava com o frenesi de suas jovens fãs, nada comparado, em escândalo, a Elvis Presley, e que beirava à histeria, mas no ritmo e complacência daquele que foi também conhecido como “Olhos Azuis”. A sensualidade em Frank Sinatra tem mais a ver com o flerte do que com o ato.

No Brasil, Sinatra influenciou dois dos mais importantes cantores pré-bossa nova, que não por acaso incorporaram suavidade ao canto tradicionalmente empostado que se praticava no país e tinha, até então, como referência, o bel canto italiano. Se os pais de Frank começaram essa história, ele tratou de singularizá-la, aparando os excessos e oferecendo ao público aquilo que os primeiros artistas abstratos chamaram de “essência”. Dick Farney e Lúcio Alves, valendo-se de uma inventada e incensada, principalmente através da imprensa, rivalidade, até cantaram em dueto, anos depois da fundação do “Sinatra-Farney Clube” e do “Dick Haymes Lúcio Alves Clube”.

Mas o principal ponto de encontro entre Brasil e Frank Sinatra aconteceu com a bossa nova já consagrada. Além de despertar o espanto e admiração dos músicos norte-americanos, ela também inebriou seu principal intérprete. Sinatra, primeiro, convidou Tom Jobim para seu show. Depois, gravou um álbum inteiro com ele. Fica nítido nessas apresentações o quanto o refinamento da música de Tom Jobim se encaixa com perfeição à embocadura do cantor número 1 de “New York, New York”, e o que ambos têm de cosmopolita parece óbvio.

Em 2015, Cauby Peixoto, um dos mais importantes cantores brasileiros de todos os tempos, lançará disco em homenagem ao centenário de nascimento do homem que prometeu se aposentar, pela primeira vez, em 1971, mas que até hoje canta. Com a elegância e calma dos clássicos.

Portrait Of Frank Sinatra

Raphael Vidigal

Fotos: Arquivo.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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