“Porque sim
Vale tudo na selva dos sentidos” Luhli & Lucina
Tempo
Escrevo hoje um português arcaico.
Sem arabesco.
Mas um mosaico.
Um português de ultimato, de fim de tarde.
Um português de Fernando.
E de Ricardo.
Um português que é de Campos. E de caiado.
Um português mal passado.
E fedorento.
Peço perdão aos monarcas.
Da língua pátria.
Sou hoje um refugiado.
Um sanfoneiro.
Se o imposto
É um impostor,
Importemo-nos, então?
Ou
Exportação?
Compromisso
É bom chegar no horário
Para o almoço
Um compromisso importante
Um namoro
É bom chegar no horário
Para a noite de núpcias
Um compromisso inadiável
Uma consulta
Só não me chegue no horário
Quando eu estiver morto.
(deixa descansar um pouco)
Essa vida livre não acolhe o homem
Cheio de suas regrinhas cacofonias
E no final uma grande desorganização geométrica
Quem inventou a aritmética arque com as consoantes
Nem só de vogais e sílabas vive o homem!
Nem só pó e si a VIVA poesia!
Ajoelhou
Não cobiçar a mulher alheia.
Mas como: se tem duas peras
Uma melancia, um rabo de sereia,
Um saco de farinha e a língua de água
Fria?
Como: se me alfazema
Se me acaricia,
E no final a inveja é um pecado e a reza
Uma eucaristia.
Quem cedo madruga,
Deus ajuda.
Quem tarde se deita,
O diabo aceita.
Poemas de Raphael Vidigal.
Ilustrações, feitas especialmente para essa coluna, por Cristiano Bistene.