“Nunca confie no artista. Confie na história.” D. H. Lawrence
Para Miele é difícil dizer o que vinha primeiro, arte ou entretenimento. Com um jeito despretensioso, descolado e bonachão, parecia priorizar, sempre, a brincadeira, a diversão da plateia e, principalmente, a sua. Foi daquelas personagens em que não se distingue com clareza onde começa o ator e termina o músico, sempre reinterpretando a própria imagem. Miele esteve presente nos acontecimentos mais relevantes da música popular brasileira, em especial no período de explosão da bossa nova e da classificada MPB quando, como fiel escudeiro do jornalista e letrista Ronaldo Bôscoli, criou programas de televisão e apresentações em teatro para Elis Regina, Wilson Simonal, Pery Ribeiro, Leny Andrade e outros nomes de peso. Mas Miele não se contentou em ficar apenas atrás das cortinas.
Com uma postura moldada para o carioca mais típico e mais simpático, embora nascido em São Paulo, Miele tomou a frente de programas de auditório que apelavam, sem constrangimento, para a busca da audiência, e deu prosseguimento àquilo que Chacrinha já inventara, com concursos e mulheres nuas à vontade. A marca registrada com que se apresentou em novelas, minisséries e filmes; quase sempre, de seus amigos, em que reincorporava o malandro, foi o humor. Um humor, aparentemente, inocente e gentil, pelo qual se tornava mais fácil desculpar os excessos cometidos. A importância fundamental de Luiz Carlos Miele no cenário cultural brasileiro foi a de conjugar, sem rompantes de estilo; arte e entretenimento, ou a de conservar a arte no mais simples e fácil exercício de divertir.
Raphael Vidigal
Fotos: Arquivo e Divulgação.