“Minha mãe cozinhava precisamente: feijão-roxinho, batatinha e tomate. Mas cantava.” Adélia Prado
Proíba-me de falar. Embora lá estive, e estivarei. Entre cacos e rãs e anéis. A mão sobre a lã enrolada das ovelhas, do sono: e Vanessa: vermelha. Depois, proíba-me de contar os casos dos índios, dos mitos, dos bárbaros. Da mulher presa em casa enquanto a onça arranha a porta sentindo cheiro de gente: faminta. Onça só caça gente quando não há mais comida. Na natureza predomina o verde… Renasce exuberante, e bela, ostenta na mesa os quitutes disputados a tapas por crianças de todas as idades… O rio seco de um homem, ou menino, caminha na pedra à distância. Uma casinha, casebre, senzala, no meio do rio seco. O rio seco. A aura seca. A alma seca. Os hipopótamos nas fuças das tenebrosas pedras: e temerárias. Uma paisagem outrora desértica, precária, não mais idônea.
O carvão lhe prova o quanto é difícil a reconstrução dos sonhos. Pretos olhos. Sebastiana andava pelas ruas sobre sua mula: princesa: as duas. Morreu pobre, e desgraçada. Hoje tem busto. Apaixonou-se pelo James Dean da cidade. Roberto Esporinha era o nome do rapaz galanteador. Mas Coronel Bim Bim, o maior demônio, covarde, morreu com um tiro da amante, na casa de milho, e na última passeata, sobre uma carroça em frangalhos, o corpo sem coração, quase itinerante, que ainda bate, quase no final, morre. Carregado de pança pra cima e ensanguentando em praça pudica. Proíba-me de falar: mesmo assim, conto. A capoeira, o cordel, os índios são nômades, vermelhos canibais, disse a cigana – Ágata: TUDO PODE.
Raphael Vidigal
Fotos: Obras de Robert Mapplethorpe.