“É um limite igual ao véu
Por sobre o rosto da dama –
Mas cada dobra é um fortim
Com dragões por entre a renda.” Emily Dickinson
Numa época em que se discute a transexualidade torna-se imperativo lembrar a partida de uma das nossas pioneiras. Phedra de Córdoda, nascida Rodolfo na Cuba de Fidel Castro, adotou o nome artístico e feminino aos 21 anos de idade, inspirada na mitologia grega, cuja tradução literal é “brilhante”. Nada mais apropriado para a atriz e dançarina que não dispensava o glamour. Phedra conheceu o produtor Walter Pinto, famoso pelo teatro de revistas, durante uma excursão da companhia à qual pertencia em Buenos Aires, e decidiu não mais retornar à terra de origem, fixando-se no Rio de Janeiro. Para quem não conhece o tratamento dado pelo regime de Fidel aos homossexuais cabe a autobiografia de Reinaldo Arenas, “Antes que Anoiteça”, de 1990.
No Brasil, Phedra participou de peças que debatiam a questão transexual e trabalhou em espetáculos com travestis, além de compor o elenco fixo de boates voltadas para o público gay. Também foi vedete do comediante Costinha e mais tarde, já em 2003, passou a integrar a companhia teatral “Os Satyros”, onde prevalecia as abordagens polêmicas. Lutadora incansável contra os limites impostos pela sociedade Phedra permaneceu, ainda assim, num lugar de marginalidade, o que não a impediu de cravar na história a sua icônica assinatura. Conferiu um importante papel social em suas aparições, sem, com isto, sacrificar os critérios da arte. Manteve estética e conteúdo em alta conta. Como todos os pioneiros deixa a coragem como principal legado.
Raphael Vidigal
Fotos: André Stefano; e arquivo, respectivamente.