5 músicas brasileiras a favor da diversidade sexual

“nada importa a não ser a valia do afeto
boca, o sol é a boca de deus” Ezra Pound

musicas-diversidade

Em tempos de polarização e tendências radicais é bom relembrar o quanto a música e a arte podem contribuir positivamente para esse debate, principalmente quando se trata de aplaudir a diversidade. No caso as diversas formas de amor e união afetiva, já reconhecidas, inclusive, pelo Estado brasileiro, são cantadas em verso e prosa por nomes como o performático Edy Star, Cássia Eller, Angela Ro Ro, Caetano Veloso e Erasmo Carlos, que homenageou a mais famosa transexual do país, Roberta Close. São cinco canções que exaltam, sobretudo, a beleza da liberdade. Mas poderiam ser muitas mais, já que o amor não tem limites tal qual a música e a arte. Saravá!!!!

Bem entendido (balada, 1974) – Renato Piau e Sérgio Natureza
Em 1974 Caetano Veloso, Gilberto Gil, Moraes Moreira, Jorge Mautner, Galvão, Roberto e Erasmo Carlos e outros nomes do cenário nacional criaram canções especialmente para homenagear e serem interpretadas por Edy Star, baiano pioneiro em trazer as influências do rock cheio de purpurina para o Brasil, reconhecido no exterior como glam. Dentre esses nomes estavam Renato Piau e Sérgio Natureza, que criaram a balada “Bem entendido”, à época uma gíria para designar os homossexuais. A letra não poderia ser mais explícita e libertadora, com versos como “o amor só faz sentido todo, quando a gente gosta e sente um calafrio, um frio fino na espinha, e o coração cheio de sangue quente, bem quente”. Após esse primeiro disco, Edy não lançou mais nenhum, nem era preciso, sua performance fora suficiente para balançar as estruturas da caretice nacional.

Preciso tanto!!! (música disco, 1980) – Angela Ro Ro
Ângela Ro Ro lançou um sem número de canções com apelo homossexual, tanto como compositora quanto na condição de intérprete. Nesta segunda seara destaca-se a interpretação visceral de “Bárbara”, música de Chico Buarque e Ruy Guerra criada para o musical “Calabar, o Elogio da Traição”. Especialista em unir a lamentação amorosa ao deboche desinibido Angela sempre se destacou entre as compositoras nacionais, sobretudo, pela postura aguerrida, caracterizada por um senso de humor inteligente e, não raro, politicamente incorreto, características que enaltecem ainda mais sua postura artística. Em 1980, no álbum “Só Nos Resta Viver”, Ro Ro distribuiu mais algumas dessas pérolas, dentre elas “Preciso tanto!!!”, com todas as exclamações por direito, em que, sem ser totalmente explícita, convida a companheira ao sexo, certa de lhe tirar os bodes da cabeça com promessas do tipo: “eu faço gostoso e com jeito, pra você não botar defeito, no meu amar…”.

Ele me deu um beijo na boca (tropicália, 1982) – Caetano Veloso
A década de 1980 foi sim pródiga em abordar o tema da diversidade sexual, já que o embate com os militares da ditadura no país estava no final, e Caetano Veloso, sempre antenado com sua tropicália, também surfou na onda. Apesar de exibir uma imagem híbrida desde o início de seu aparecimento no cenário nacional foi em 1982, no disco “Cores, Nomes”, que Caetano lançou uma das músicas mais explícitas referentes ao tema; claro à sua maneira. Sem abandonar o mundo de interferências a que alguns consideravam hermetismo em suas canções, o músico já dava seu recado logo no título. “Ele me deu um beijo na boca” acompanhava o discurso endossado pela foto da contracapa do álbum, em que Veloso aparece beijando um homem. Mais uma excelente contribuição de um dos artistas que mais exaltaram as liberdades individuais no país. João Donato, Djavan e Rolling Stones são alguns dos citados na música.

Dá um close nela (Jovem Guarda, 1984) – Erasmo Carlos e Roberto Carlos
Em 1984 a dupla Roberto Carlos e Erasmo Carlos lançou a música “Close”, que popularmente ficou conhecida como “Dá um close nela”. Evidente homenagem para Roberta Close foi lançada e interpretada por Erasmo em clipe protagonizado pela modelo e atriz, sem dúvida a mais famosa transexual do Brasil. A beleza de Roberta foi sempre tão marcante que ela segue como a única transexual a estampar a capa da revista Playboy no país. Cumpre ressaltar também o talento da artista como atriz, com atuação destacada no filme “O Escorpião Escarlate”, de Ivan Cardoso, num número de strip-tease. A música enaltece as qualidades físicas de Roberta Close, uma mulher na acepção da palavra, em todos os seus atributos. Ainda enfrentando preconceitos, Close é um exemplo de luta e dignidade para todos que desejam usufruir de sua sexualidade independente das barreiras impostas pela moral.

Rubens (rock, 1986) – Mário Manga
Provavelmente a música mais explícita do cancioneiro nacional no tocante à homossexualidade masculina, “Rubens”, rock de 1986 composto por Mário Manga, ganhou sua versão definitiva na “voz de trovão”, como bem dito por Rita Lee, da icônica Cássia Eller. Como não poderia deixar de ser, havia aí mais uma ironia e tabu a ser placidamente derrubado por Cássia que, homossexual assumida, tornou-se uma das mais importantes figuras na luta pelo direito à união homoafetiva quando a Justiça decidiu dar a guarda de seu filho Chicão para Eugênia, companheira da cantora por décadas, em decisão, até aquele momento, inédita. A postura de Cássia durante toda a vida foi um exemplo de liberdade e renascimento. Roqueira radical no início da carreira atingiu a maturidade artística como mãe e descobrindo as suavidades de seu repertório, isso sem abandonar o vigor de suas interpretações. “Rubens”, lançada pelo grupo “Premeditando o Breque”, em 1986, não deixa dúvidas quanto ao ditado: “Rubens, eu acho que dá pé, esse negócio de homem com homem, mulher com mulher!”.

lgbt

Raphael Vidigal

Fotos: Montagem com Caetano Veloso, Cássia Eller e seu filho Chicão, Roberta Close, Angela Ro Ro e Edy Star; e bandeira do movimento LGBT, respectivamente.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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