Análise: Rogério Duarte manteve princípios da Tropicália até o fim

“qualquer palavra é um gesto
e em sua orla
os pássaros de sempre cantam
nos hospícios.” Torquato Neto

rogerio-duarte

Rogério Duarte foi uma dessas personagens periféricas da “Tropicália” à qual muitos não ligam o nome à arte. Muito embora sua contribuição tenha sido fundamental para o movimento. Músico e artista gráfico natural do interior baiano, Duarte foi responsável pela criação das capas de discos icônicos de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Jorge Mautner, os primeiros a esbanjar a estética psicodélica e colorida do tropicalismo. Mas não foi só isso, o sucesso o levou a ser chamado para o mesmo feito a serviço de Gal Costa, Jorge Benjor e o ídolo supremo de todos eles, um dos artífices da bossa nova, João Gilberto. No teatro, foi referência para o inventivo Zé Celso Martinez Corrêa.

Em cinema, Rogério criou os cartazes para filmes de Glauber Rocha, em especial o aclamado “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, sustentador das ideias propagandeadas pelo diretor sobre o “Cinema Novo”, e também participou com a identidade visual e a trilha sonora do polêmico “A Idade da Terra”, último filme de Glauber. Músico, Rogério trabalhou em parcerias com Caetano Veloso, Jards Macalé, Gilberto Gil, Tom Zé, Chacal e outros, quase sempre em composições irregulares tanto em conteúdo quanto na forma. Uma das primeiras personalidades presas e torturadas pela ditadura militar, Rogério manteve sua veia audaciosa durante todo o percurso artístico e pessoal.

Prova incontestável é o livro “Tropicaos”, lançado por ele em 2003 e que, segundo Duarte, teria a finalidade de contestar o “Verdades Tropicais”, lançado por Caetano Veloso em 1997 e “dar crédito aos verdadeiros criadores do ‘Tropicalismo’”, em que cita Torquato Neto, Hélio Oiticica, José Agrippino de Paula e ele próprio. Tido por todos como mentor intelectual dos artistas listados, Rogério ocupou espaço limitado perante os olhos do grande público, provavelmente por manter a essência rebelde e contestadora do princípio do movimento. Ilação parecida pode ser feita com relação à postura de Jean Luc-Godard e sua Nouvelle Vague. Um artista para poucos, mas fiéis súditos.

rogerio-duarte-analise

Raphael Vidigal

Fotos: Arquivo e Divulgação.

Compartilhe

Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Email

Comentários pelo Facebook

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Recebas as notícias da Esquina Musical direto no e-mail.

Preencha seu e-mail:

Publicidade

Quem sou eu


Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

Categorias

Já Curtiu ?

Siga no Instagram

Amor de morte entre duas vidas

Publicidade

[xyz-ips snippet="facecometarios"]