5 perguntas nunca respondidas por Elke Maravilha

“Mas, ao escrever-lhe, tinha em mente outro homem, um fantasma feito das lembranças mais ardentes, das leituras mais belas, dos desejos mais intensos; e, ao final, ele tornava-se tão verdadeiro e acessível que ela palpitava maravilhada, sem poder, todavia, imaginá-lo claramente, de tanto que ele se perdia, como um deus, sob a abundância de seus atributos. Morava em uma região azulada, onde escadas de seda balançavam-se nas sacadas, sob o sopro das flores, sob o luar. Sentia-o por perto; ele viria e a arrebataria toda em um beijo. A seguir, caía do alto, dilacerada, pois aqueles impulsos de amor vago a cansavam mais do que as grandes devassidões.” Gustave Flaubert

Elke-Maravilha

Elke Maravilha é uma das mais exóticas e pitorescas personalidades do cenário brasileiro, basta olhar o número de vezes em que interpretou a si mesma em novelas, cinemas e seriados para constatar essa afirmação. Elke é, em si, a sua própria personagem. Natural da Rússia, despatriada no país de origem e cassada no Brasil, onde veio para morar e combateu a ditadura, Elke adotou a nacionalidade alemã. Como cantora é capaz de interpretar em seu primeiro idioma, o russo, mas também em português e alemão, indo de peças bávaras a xotes do sertão nordestino, em homenagens a Luiz Gonzaga.

Conhecida, sobretudo, como jurada de programas de calouros, onde fez fama junto a um público massificado, Elke começou a carreira como modelo, e o exemplo de beleza grega que ao longo do tempo foi substituído pelo exotismo pode ser conferido em fotografias antigas. Assim, Elke exerce o papel de uma força irreverente, libertária, culta e que ao mesmo tempo despreza todos os pedantismos, lugares comuns e baratos. Em outras palavras Elke conserva aquela qualidade tão cara a todos os artistas, o poder de transformação, a capacidade da contradição, o eterno martírio da dúvida e a busca pelo prazer.

Aproveitando desse caráter rebelde da personalidade de Elke Maravilha, pensamos numa brincadeira. Como foi impossível entrevistá-la há um tempo atrás, apesar do envio de perguntas para a assessoria e a promessa de que as respostas viriam, resolvemos, nós mesmos, imaginar o que diria Elke Maravilha diante de 5 perguntas nunca respondidas. E porque temos a consciência de que Elke é inapreensível, incapturável, e a sua postura artística, bem como seus exemplos de vida, dizem mais do que as meras palavras nos idiomas que aprendeu, ainda que ditas por boca tão sinuosa e gentil, vamos ao “trabalho”.

1 – O que foi o Movimento de Arte Pornô?
Em 1983 gravei um compacto para a Chantecler, gravadora da época. Num lado registrei um baiãozinho de um certo José Ramos da Costa, que já havia sido gravado pelo Carlos Galindo, enfim, era uma música de sucesso, especialmente no nordeste, no sertão, e fala da saudade dos imigrantes, outra coisa com a qual eu me identifico. Mas o Movimento de Arte Pornô era isso. “Ai, ai ai, ai que vontade de comer goiaba, vontade de comer goiaba, ai que vontade de comer goiaba…”.

2 – Como você aprendeu a falar 9 línguas diferentes?
Sou um ser do mundo, um bicho solto, livre, que cede a algumas tentações desse mundo organizado, prosaico, previsível que o homem inventou para si. Eu falo nove línguas no idioma humano, mas muitas mais do universo e com ele. Carrego um lado místico porquê a vida tem várias dimensões, basta observar qualquer esfera para constatar que nada é feito de um lado só e muito menos de dois. Aprendi o alemão, russo, grego, latim, espanhol, português, italiano, francês, inglês. Como foi isso? “Quem sabe, sabe, me conhece e gooosta”. Esse é o refrão da música “Joia Rara”, que gravei também em 1983.

3 – O que pensa sobre as questões de gêneros e adoções por homossexuais no Brasil?
A questão é simples. Respondo com uma música do Durval Vieira, outro nordestino, gravada pelo Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Gal Costa. “Que diferença da mulher o homem tem?”, “Tem pouca diferença”, é o que já responde no título. É uma canção jocosa, matreira, descontraída. Essa deveria ser uma questão pueril para a humanidade, como todas as outras sobre as quais ela cria a guerra, a discórdia, o rancor. É só colocar o amorzinho, aquele sentimento sutil e abrasador, lá em primeiro lugar, em cima da geladeira, da cômoda, da onde for. Está respondido? Sou totalmente a favor da felicidade!

4 – Qual foi a sua reação ao receber a homenagem do Itamar Assumpção em seu último disco?
Aquilo foi uma coisa linda! Não tem muito o que dizer. Basta ouvir a canção para imaginar como eu me senti, nas nuvens, no céu, ao lado de onde o Itamarzinho está agora, com seus anjos multicoloridos ao lado e cantando músicas para enternecer Deus. Não precisa muito esforço para saber por que o Todo Poderoso o levou tão jovem, não é? Estava com inveja de nós. Mas tudo bem. Itamar deixou um legado muito grande, fez valer a pena esta vida dele e a de muitas outras pessoas. Graças ao poder da arte, da energia da comunhão, do bem.

5 – Quem é Elke Maravilha?
“O que é a vida?”, como dizia o Abujamra. E insistia três vezes. Ou antes, como fala aquele poema do Mario Quintana: “Nunca acredita nas respostas. As respostas são muitas. E a tua pergunta é única e insubstituível”. Não existe resposta. Ou antes, me diga você que entende do riscado!

*Todas as respostas são fruto da imaginação do jornalista. Trata-se de um exercício lúdico de adivinhar. Sem responsabilidade com o realismo.

Elke-Maravilha-modelo

Raphael Vidigal

Fotos: Arquivo.

Compartilhe

Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Email

Comentários pelo Facebook

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Recebas as notícias da Esquina Musical direto no e-mail.

Preencha seu e-mail:

Publicidade

Quem sou eu


Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

Categorias

Já Curtiu ?

Siga no Instagram

Amor de morte entre duas vidas

Publicidade

[xyz-ips snippet="facecometarios"]