“um pouco de mao
em todo poema que ensina
quanto menor
mais do tamanho da china” Paulo Leminski
O “samurai malandro”, como ficou conhecido o poeta de Curitiba Paulo Leminski, traduz, logo no codinome, a gama de contradições e opostos que atraíram o artista. Com descendência polonesa e africana, Paulo furou o umbigo do Paraná e de lá puxou oriente, Brasil e Europa. Cinema, judô e arte plástica. Aquele que com aparente superficialidade ia do raso ao profundo, do clássico ao populacho. E foi sendo “mínimo em matéria de máximo” que Paulo Leminski construiu uma obra cuja precisão e musicalidade o eternizou junto a gentes variadas. Pois como pede o mendigo da praça, sobre os poetas deixem os poemas falarem.
Verdura (1981) – Paulo Leminski
Após ser derrotado num concurso de poesias, onde levou somente a “menção honrosa”, Paulo Leminski ganhou de presente de uns amigos, em 1976, a edição de seu primeiro livro, numa espécie de folhetos em que seus versos eram combinados a fotografias: “quarenta clics em curitiba”. Esse início já prenuncia o seu papel de vanguarda e avesso às “autoridades acadêmicas”. O primeiro BOOM na carreira de Leminski, no entanto, aconteceu em 1981, através da música popular e não dos livros. Caetano Veloso, tropicalista, encantado com sua música “Verdura”, a registrou no disco “Outras palavras”. A canção versa, entre o lirismo e o tom cínico, sobre a imposição sociocultural dos Estados Unidos no Brasil.
Valeu (1981) – Paulo Leminski
No mesmo ano de 1981, o curitibano Paulo Leminski teve outra música sua lançada por um “novo baiano”. Paulinho Boca de Cantor, investindo na carreira individual, utilizou a canção de Leminski para batizar o seu novo álbum: “Valeu”. Nesta obra Leminski utiliza preceitos da cultura hippie e expõe a profunda ligação com a natureza para encarar a guerra e combater as atrocidades cometidas pelo homem. A ternura e o amor de um casal apaixonado servem de mote. Os arranjos procuram evocar certo misticismo e atmosfera mágica. A música ainda teve destaque na regravação da banda Blindagem e no registro de Moraes Moreira, outro ilustre baiano na trajetória musical do poeta Leminski.
Promessas demais (1982) – Paulo Leminski, Moraes Moreira e Zeca Barreto
Em 1982, uma composição de Leminski em parceria com Zeca Barreto e Moraes Moreira chamou a atenção de ninguém menos que Ney Matogrosso, que decidiu gravá-la no disco “Mato Grosso”, do mesmo ano. Apresentada em show no Coliseu de Lisboa, em Portugal, com amplo sucesso, revelava ao mundo o Leminski compositor popular antes mesmo do poeta, já que “caprichos & relaxos”, livro de maior destaque, sairia apenas um ano depois, em 1983. Na interpretação de Ney Matogrosso ressaltam-se o delicado jogo dos combinados haicais de Leminski que compõe a música, em que o sentido de cada frase nunca está limitado a uma única leitura. É um mar de possibilidades, entre Brasil e Portugal nasce um poeta novo.
Desejos Manifestos (1986) – Paulo Leminski, Moraes Moreira e Zeca Barreto
A tríade Paulo Leminski, Moraes Moreira e Zeca Barreto voltou a se repetir com êxito na composição de “Desejos Manifestos”, lançada em 1986 no álbum “Mestiço É Isso”, de Moraes. Aliás, a parceria entre Paulo Leminski e Moraes Moreira merece um capítulo à parte, e reaparece durante várias fases da carreira de ambos. A ligação entre o baiano e o curitibano deve-se, fisicamente, a um encontro na casa de Caetano Veloso, quando Moraes já alçava voo em carreira solo, e também pelos interesses em comum ligados à arte, cultura e modos de vida. Pois para os dois a vida, cultura e arte nunca se separaram. “Desejos Manifestos” expõe uma das mais inspiradas músicas de Leminski, com toda a força de sua poesia que aborda tempo, espaço e esperança.
Luzes (1994) – Paulo Leminski
Paulo Leminski morreu em 1989, aos 44 anos, vítima de cirrose hepática consequente de abusos do álcool. Sua obra continuou sendo lançada em livros, com poemas inéditos e outras reedições, e invadiu os ramos da cultura pop onde ele trafegou com inconfundível especialidade, no fio da lâmina do samurai que combinava a erudição a uma postura irreverente e combativa, com olhos para o todo e não um nicho elitista. Em 1994, a cantora Susana Sales lançou em seu disco uma das preciosidades do poeta, a canção “Luzes”. Arnaldo Antunes, em 2001, com expressivo e voluptuoso arranjo a relançou no álbum “paradeiro”. Duas provas incontestáveis do poder inflamável das luzes de Paulo Leminski. Basta ouvir.
Dor elegante (1998) – Paulo Leminski e Itamar Assumpção
O sempre atento e performático Itamar Assumpção, um dos principais nomes da “Vanguarda Paulista” que invadiu o cenário cultural brasileiro unindo música a teatro e outras inovações mais, foi outro a buscar em Paulo Leminski combustível para a sua arte. Em 1998, no álbum “PRETOBRÁS”, Itamar transformou o poema “Dor elegante”, em canção, ao receber a letra. Diga-se de passagem, essa “transformação” é, quase sempre, apenas a colocação de instrumentos musicais e voz, pois, melodia e métrica quase sempre são presentes em todas as composições de Paulo. Numa das mais sensíveis e delicadas criações de Paulo Leminski, o autor versa com sabedoria e singeleza sobre o valor da vida, e a histórica e até barroca capacidade de, a partir do martírio, nascer a beleza.
Se houver céu (1982) – Paulo Leminski
“Se houver céu” foi uma canção composta por Paulo Leminski em 1982, no clima de amor e despojamento aprendido com a cultura hippie. Lançada, neste mesmo ano, por Paulinho Boca de Cantor, no disco “Prazer de viver”, também foi regravada pela banda Blindagem, em 1990, um ano após a morte do poeta. Mas é, sem dúvida, no raríssimo registro de Leminski que a canção tem a sua relíquia maior. Pois Paulo foi, sobretudo, uma voz diferenciada, única, que cantou o coletivo a partir de sua lupa, e expressou sentimentos universais e simples com a originalidade de um artista incapturável. Paulo contestou, provocou, emocionou e propôs refletir. Mas não a reflexão de espelhos, e sim de águas que transmitem levezas, correntezas e mil imagens. Paulo Leminski, “mínimo em matéria de máximo”, se houver céu lá está entortando a auréola de anjos e voando com asas de papelão.
Raphael Vidigal
18 Comentários
Muito legal!
Salve, sauve, saúde , saúdo, saludo Leminski!
compartilhado!
Muito bom Rapha!!
Maneiro mesmo
Muito bom, Raphael!!!!!
SALVE! Amo…amo…amo!!!
Olhaí o nosso querido. Por favor curta a pagina acima do cultíssimo Raphael Vidigal.
Bjs.
valeu, cara.
Maravilhoso trabalho!!!!
70 anos …Leminski…ontem….
A lua no cinema:
A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.
Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!
Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.
A lua ficou tão triste
com aquela história de amor
que até hoje a lua insiste:
— Amanheça, por favor!
achei uma gracinha….rs
Leminski foi meu professor quando aqui em Curitiba eu fazia cursinho p/faculdade de direito. Ele era fantástico…tomamos muitos conhaques juntos.
muito massa!
Poeta de raro talento, partiu cedo…
Muito, muito bom. Levei, é claro. Boa segunda.
‘Promessas demais’ na voz de Ney Matogrosso! Demais!
que arraso, hein!!!
VALEU PAULO LEMINSKI, POR SEU CARISMA ENCANTADOR , SUAS POESIAS SEMPRE ME ENCANTARAM, VC NAO ESCREVIA QUALQUER COISA TUDO VINDO DE VC E PURA ARTE E SEMPRE SERA.