5 Sucessos do Quarteto em Cy

“para quê expressar-se melhor do que estes lótus, estas rosas, estes jasmins quietos, inapanhados: já não tinham dito tudo?” Mallarmé

quartetoemcy

A história do “Quarteto em Cy” é uma estória de mudanças. Da Bahia, no interior, em Ibirataia, para o Rio de Janeiro. Do Rio para os Estados Unidos. Dos Estados Unidos para a Europa e da Europa para o Japão. De Cyva, Cynara, Cybele e Cylene, as irmãs iniciais, para Sônia Ferreira, Dorinha Tapajós, Sandra Machado, Regina Werneck, Cymíramis e Keyla. Neste caminho passaram Chico Buarque, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Caetano Veloso, Dorival Caymmi, Gilberto Gil, Gonzaguinha, Milton Nascimento, MPB-4, Ivan Lins, e outros. Pois uma coisa é permanente, nessa história e nesta estória, o “Quarteto em Cy” não dá ponto sem nó, nem deixa sem pingo o Y. E a música flui sabiámente.

Das rosas… (samba-valsa, 1965) – Dorival Caymmi
Foi com um conterrâneo que o “Quarteto em Cy” encontrou um dos primeiros grandes sucessos da carreira, só que com um nome estrangeiro. Acompanhando o baiano Dorival Caymmi na gravação de seu elepê e atendendo como “The Girls from Bahia”, Cyva, Cynara, Cybele e Cylene fizeram ecoar pelo Brasil afora em 1965 o samba-valsa “Das rosas…”. Uma das peças mais românticas do repertório de Caymmi não poderia ser dedicada a outra flor senão a do título, e assim perfumava o caminho das irmãs que, em 1966, lançavam a música no disco “Som definitivo”, ao lado do “Tamba Trio”.

Pedro pedreiro (samba, 1965) – Chico Buarque
O primeiro álbum de Chico Buarque chegou às lojas, logo de saída, com uma “pedrada”. “Pedro pedreiro”, samba de 1965, já mostrava o pungente lirismo do compositor que contava então com apenas 20 anos. Nem tão moças, as meninas do “Quarteto em Cy” já estavam no quarto disco apenas naquele ano de 1966, um após o lançamento de Chico, entre acompanhamentos a Vinicius de Moraes, Baden Powell, e disco com versões inglesas. O encontro da poesia de Chico Buarque com as vozes harmônicas de Cyva, Cynara, Cybele e Cylene não poderia resultar em outra senão belos aplausos e sentimentos.

Canto de Ossanha (afro-samba, 1966) – Baden Powell e Vinicius de Moraes
Foi o poetinha Vinicius de Moraes, em consonância com o compositor Carlos Lyra, que sugeriu a Cyva, Cynara, Cybele e Cylene que formassem um conjunto vocal com o nome de “Quarteto em Cy”. A essa altura elas já haviam descoberto o prazer da música cantando no projeto sociocultural da Bahia “Hora da Criança”, e de passagem pelo Rio de Janeiro, Cyva conheceu Vinicius. Pouco tempo depois, também em 1966, gravariam, na companhia de Baden Powell e Vinicius, e em solo, um dos afro-sambas mais conhecidos e repetidos da dupla, o “Canto de Ossanha” que estimula filosofia e paixão.

Samba do crioulo doido (samba, 1968) – Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta
Sérgio Porto, reconhecido pelo pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, era homem de inúmeros talentos. Radialista, cronista e compositor, conheceu o sucesso com esta última atividade no final da vida. Em 1968, poucos meses antes de falecer vítima de um enfarto aos 45 anos, Stanislaw criou o “Samba do crioulo doido”, que além de expressão popular transformou-se em canção de sucesso e show protagonizado por ele e as meninas do “Quarteto em Cy”, à ocasião Cymíramis, Cyntia, Cyregina, sendo as duas últimas codinomes de Sônia Ferreira e Regina Werneck, respectivamente, e a remanescente Cyva. A irreverente introdução dessa sátira é dita pelo próprio autor, Sérgio Porto.

Sabiá (bossa-nova, 1968) – Chico Buarque e Tom Jobim
O primeiro registro fonográfico do Quarteto em Cy aconteceu em 1963, na gravação da trilha sonora do filme “Sol sobre a lama”, de Alex Viany. Em 1968, Cybele e Cynara, como dupla, venceram o III Festival Internacional da Canção com a bossa-nova “Sabiá”, de Chico Buarque e Tom Jobim, mas sob vaias, já que o público em massa apoiava a politizada “Caminhando”, de Geraldo Vandré. Após inúmeros sucessos, formações, discos em homenagem a gêneros e compositores, o grupo gravou “Sabiá” no ano de 1997, em parceria com o MPB4, no álbum intitulado “Bate-Boca”. E está dado o recado. Aplausos!

090911 Só ando em boa companhia Foto Arquivo pessoal Cynara Faria (2)

Raphael Vidigal

Lido na rádio Itatiaia por Acir Antão em 31/08/2014.

Fotos: Divulgação e Arquivo Pessoal de Cynara, respectivamente. Na segunda foto estão presentes: Cybele, Cynara e Cylene, formação original do Quarteto, em companhia de Vinicius de Moraes, Dorival Caymmi, Aloysio de Oliveira e Oscar Castro Neves (ao violão).

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15 Comentários

  • Quando eu tinha uns 10 anos, ouvimos dois álbuns durante toda a viagem de Uberlândia a Brasilia, e depois na volta, no opala verde bandeira do meu pai : Steve Wonder’s Greatest Hits e Antologia do Samba Canção vol. 1 do Quarteto em Cy! Meu pai sempre foi o culpado de minha educação musical! 😉 S2

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  • Que coisa bonita, Raphael. Você é tão jovem e talentoso. Muito obrigada pelo seu carinho conosco, querido. E em especial, pela Cybele, nesta bela homenagem.

    Resposta
  • Elas merecem todas as homenagens! Vozes encantadas, que nos fizeram suspirar. Todas as músicas que vibraram em suas vozes límpidas, afinadas e harmoniosas, estão em nossos corações, guardadas em nossas recordações mais preciosas! Rosas, jasmins, lótus…sim, flores eternas da música brasileira! Cybele, obrigada por nos encantar! Obrigada a todas que aqui ainda estão!!

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  • Amava o Quarteto em Cy ! Abraços para você e SALVE o QUARTETO !!!

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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