“Todos sabem que a inteligência nos faz desembocar apenas nas névoas do ceticismo.” Salvador Dalí
Há um homem sentado de costas. Avisto luzes por sobre as cores, abajures baratos, um silêncio, o barulho. Tapetes, tapumes, escondem cadeiras, teto, assoalho. A cena é um mistério. Reverbera o vermelho, intacto.
Se assim continuasse, caso não descobrissem se tratar do homem aquele visto como galã, e os quadros tivessem sido referendados a um esdrúxulo bruxo, ou a um mendigo abstrato, haveria os aplausos robustos ao final da apresentação?
Não importa. Antes de ver Antônio Fagundes dar vida à Mark Rothko, a quem, pelo espírito provocativo, conservo especial curiosidade, presenciei um ator muito superior ao visto em distantes tubos decorando casas de paredes brancas entre fios de eletricidade. Gosto de como dissipa as falas, da rouquidão.
Mas há o escuro. Por sobre o escuro uma iluminação manipulada a garantir a ilação entre tinta e lâmpada. Uma escorrega, escorre, a outra pisca, brilha, fere, atinge o glóbulo sanguinolento de globos futuros.
A discussão sobre arte, consumo, tempo, entranhas, funduras, interessa-me muito, e asseguro, Fagundes e o filho Bruno bem a conduzem, por conta da experiência do primeiro e o bom porte físico do segundo, a arrancar suspiros de fêmeas e machos.
O teatro, como recorte fantasioso da realidade, é um espaço onde cabe filosofia límpida, e apelação lânguida, contrastes como Rothko e o desconhecido e inexistente Ken, a assistir o mestre e procurar parágrafos.
A música, erudita ou jazz, e a arte, expressionista ou pop, abraça os espectadores numa maré vermelha, cereja – artificial – a ser saboreada, enjoativa e doce, forte, mas pequenina, que logo acaba. E voltam-se os rostos para a saída, pois o pano desce, divertiu alguns, entediou uns tantos. O homem, de costas. “Crie algo novo”, afiança.
Raphael Vidigal
11 Comentários
queria muito ter ido…
Demais !!
Vidgal, nem entendi de se vc gostou ou nao no fim das constas oO
Parece que foi bom!
achei o texto muito positivo pra uma peça que só consegue vestir o ar do cansaço tedioso nas minhas narinas.
kkkk, pois é, eu queria saber isso, se era pra eu ver ou nao 😉
valeu Lex !
é Cynthia Lopes… eu nao gostei nao… muita informação sobre pintores famosos e enredo que nao se desenvolve. tudo acaba num susto… quando nenhuma questão foi trabalhada de verdade hehe
bom, não sou incisivo em determinar a qualidade da peça. Há coisas que me chamam a atenção, escapam da limitação dos adjetivos “bom” ou “ruim”.
acho q o texto Vidigal é bem melhor q a peça 🙂
tb acho! xP
esquinamusical é um show de arte, maravilhoso, sou Vermelha estou Rubra