5 parcerias raras de Supla

“Desconfio, pois, dos contrastes superficiais e do pitoresco aparente; eles sustentam sua palavra por muito pouco tempo. O que chamamos exotismo traduz uma desigualdade de ritmo, significativa no espaço de alguns séculos e velando provisoriamente um destino que bem poderia ter permanecido solidário.” Wally Salomão

supla

Batizado Eduardo Smith de Vasconcelos Suplicy, filho da sexóloga, apresentadora e política Marta Suplicy e de Eduardo Suplicy, um dos senadores mais atuantes da história do PT, Supla sempre foi uma figura exótica no cenário da música brasileira, provavelmente por se considerar, ele próprio, um “bicho estranho” nesse meio. Identificado com a cultura norte-americana desde cedo, foi um dos primeiros a adentrar o universo punk com o apoio da mídia. Ao longo da vida Supla fez de quase tudo, e não se pode afirmar a presença inconteste da qualidade, mas se estabeleceu como uma autêntica celebridade. Cantou com Cauby Peixoto e Roger, da banda “Ultraje a Rigor”, participou de filme com Angélica e “Os Trapalhões”, além de escrever música com Cazuza. Abaixo apresentamos um pouco dessas raras parcerias.

Garota de Berlim (pop rock, 1986) – Rodrigo Andrade
Exotismo por extravagância Nina Hagen e Supla tinham tudo para dar certo tanto no palco quanto fora dele, o que de fato aconteceu. Em 1986, quando do lançamento do álbum “Humanos”, estreia da banda “Tokyo”, os dois participaram de um divertido dueto na música “Garota de Berlim”, de autoria de Rodrigo Andrade e um dos maiores sucessos da carreira do filho de Eduardo e Marta. Com uma letra simples e um ritmo que acompanha a travessia do protagonista e seu estado de indecisão em alguns momentos da trama, a canção se encaixa tanto para a voz atravessada de Supla quanto a nacionalidade de Nina, uma autêntica garota de Berlim nascida na Alemanha.

Romântica (balada, 1986) – Supla, Bidi e Marcelo Z.
Evidenciando o apoio da mídia, o primeiro álbum da banda “Tokyo” contou também com uma participação mais do que especial e estranha àquele ambiente. Produzido para o programa do “Fantástico”, sob a direção de Boni, o clipe da música “Romântica” surpreendeu ao colocar em cena um dos maiores ícones da história do canto nacional, Cauby Peixoto, ao lado de um esforçado garoto de cabelos arrepiados e loiros que falava e pronunciava as palavras com a crueza de um autêntico punk tupiniquim. “Romântica”, balada escrita por Supla, Bidi e Marcelo Z. traz um dos capítulos mais pitorescos da música popular brasileira e reafirma a sua característica diversa e miscigenada.

Nem Tudo É Verdade (punk rock, 1989) – Supla e Cazuza
Alguns pontos em comum unem Cazuza a Supla. Músicos bem nascidos, cantores, que se encontravam, com alguma freqüência, nas noites paulistanas regadas a álcool e outras drogas, quando das estadias do carioca na capital. Mas as semelhanças param por aí. Não dá para comparar a qualidade do trabalho dos dois artistas. Ainda assim, já no fim da vida, Cazuza resolveu compor uma canção com Supla, aliás, a diversidade de parceiros era uma das características do “Exagerado”, forte demonstração de seu caráter agregador e festeiro. “Nem Tudo É Verdade” é uma espécie de punk rock que auxilia crítica social a frases feitas, fáceis de serem encaixadas ao canto rígido de Supla.

Pisa em Mim (rock, 1990) – Supla, Fabiana Kherlakian, Décio Nogueira Novaes, Paulo César Padovan e Rogério Bidlovski
Supla também aprontou parcerias incomuns no cinema, revelando-se em outra área de atuação, desta feita como ator, fato que se repetiria, anos mais tarde, na cinebiografia “Noel – Poeta da Vila”, em que encarna o múltiplo poeta, ator e compositor Mário Lago. Mas em 1990 o astro foi convidado a protagonizar o filme “Uma Escola Atrapalhada”, d’Os Trapalhões, o último com Zacarias em cena, que faleceria neste mesmo ano. Par romântico de Angélica, Supla interpreta, no longa-metragem, a música “Pisa em Mim”, rock de estrutura simples, tanto em letra quanto melodia, que surpreende pelo número de parceiros na composição. Nada menos do que seis responsáveis pela pérola.

Encoleirado (pop rock, 1991) – Supla, Roger e Andria Busic
Embora distintos, Supla e Roger, vocalista da banda “Ultraje a Rigor”, provavelmente são, entre os parceiros citados, os mais parecidos. Paulistas, amigos, com um canto geralmente direto e ríspido, embora as composições do segundo ultrapassem, em muito, a crítica pueril e rasteira que em geral caracteriza as composições do primeiro. “Encoleirado”, pop rock de 1991, tem mais a marca de Supla, e traz ainda na parceria a presença de Andria Busic. A música é uma simples troça à atitude da mulher em relação ao homem numa relação afetiva, em que este se sente “na coleira”, “preso”. Algo como o que Kelly Key veio a dizer anos depois, de outra maneira. Não é por acaso que ela e Supla foram também parceiros, desta vez no comando de atração televisiva.

supla-parcerias

Raphael Vidigal

Fotos: Divulgação; e Ramón Vasconcelos, respectivamente.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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