Show: Waldir Silva (Choro no palco)

“e se leres recados numa folha branca,
Não creias também: é preciso encostar
teus lábios nos meus lábios para ouvir.” Lya Luft

Choro no palco

Entrego-lhe Waldir Silva semanas depois. Temo aprendido a elucubrar a inutileza (inútil gentileza) do que faço. Chego sempre atrasado ao comprometimento, e por isso o que lhe disponho não deve ter a força da utilização. É por demais delicado para o tal alcance de mãos em busca da fruta no último galho, esta tecnologia ainda não involuiu à arte, as palavras, a música.

Creio brincar de gramática errada, mas o fato-leda-fantasia é a varinha de condão do meu ancião passando o macio ferro por sobre os trilhos de um telegrama musical (pombo correio trazido por Deus? Ou Zeus? Ou Hades? Reféns felizes de um gordo Baco, ou a mitologia é mesmo lama e lema.)

“Venho lhe pedir
Que alimente a mágoa a sós
Pois o meu coração achou
A ternura e a paz, sim”

Não importa, e por demais, importância é uma letra muito pesada para o que pensava a ela, quando no quarto encontrou a amante de braços e pernas dadas com a desimportância. Adianto, aquele que busca o saber da supremacia soberana, saia já deste recinto calcado fada, chamado nada, rimas tão pobres e alianças, divertidas como roupa suja de criança após banho de infantilidade, dente quebrado, infância.

Waldir Silva, assim me pareceu um menino. E eis que agora me vingo dos que já foram embora, pois de pirraça imitarei o cavaquinho do mestre no gênero, serei veloz, objeto, direto, fervo, farpa, e ainda assim, ainda assim, (deixo aqui o mistério da repetição impensada), mágica. Por certo liras, traves, gol de canto e de festim, habitarão eternamente os tresloucados campos de minha passagem, mesmo depois do Alzheimer.

“Naquele momento
Alguém viu no espaço, à luz do luar
Senhor da floresta de braços abertos
Risonho a falar”

No instante em que o dedo toca a campainha e saio correndo por um campo de futebol largado às traças, caixas de frutas empilhadas, mas tantas, tantas, tantas (mais um pouquinho para continuar o frio na barriga) tantas tardes quentes, tombos, e saudades, resolvo falar de Lígia Jacques. O que uma coisa tem a ver com a outra não me cobre, expliquei de saída qual a minha porta de entrada – bato naquele casarão falante de contos heroicos, Irmãos Grimm e favos de melado, fábulas.

Talvez a cantora lírica importando a voz para erigir aos palacetes aquilo escrito despretensiosamente, se imaginava máximo tocar em programa de rádio, desperte a complacência do menino que começou bagunçando lápis de cor atrás do trenzinho elétrico tão irreal e desfeito, e hoje acredita ser capaz de contribuir com o dispensável dispendioso para este mundo raso.

Nado em águas lodosas na minha respiração. Peixes tentos-silenciosos de Waldir.

Chorinho Pizindim

Raphael Vidigal

Compartilhe

Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Email

Comentários pelo Facebook

15 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Recebas as notícias da Esquina Musical direto no e-mail.

Preencha seu e-mail:

Publicidade

Quem sou eu


Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

Categorias

Já Curtiu ?

Siga no Instagram

Amor de morte entre duas vidas

Publicidade

[xyz-ips snippet="facecometarios"]