Relembre sucessos de Vander Lee, gravado de Bethânia a Gal Costa

*por Raphael Vidigal Aroeira

“Trem do desejo
Penetrou na noite escura
Foi abrindo sem censura
O ventre da morena terra” Vander Lee

Saulo Laranjeira ficou tão emocionado que não segurou as lágrimas quando Vander Lee cantou “Românticos”, no programa “Arrumação”, que ele comanda desde 1987 na televisão. A canção foi ganhando uma dimensão que, aos poucos, alçou Vander Lee ao estrelato. “Ele ainda não era muito conhecido e durante um tempo a canção ficou mais conhecida do que ele. Anos depois é que ele vem a ficar mais conhecido, tendo ‘Românticos’ como carro-chefe”, conta Marcos Catarina, irmão de Vander Lee. Vanderli Catarina, mais conhecido como Vander Lee, nasceu em Belo Horizonte, no dia 3 de março de 1966, e morreu no dia 5 de agosto de 2016, com apenas 50 anos, vítima de um infarto enquanto praticava hidroginástica. Entre os grandes sucessos de Vander Lee estão “Românticos”, “Esperando Aviões”, “Contra o Tempo”, “Onde Deus Possa Me Ouvir” e “Estrela”, gravadas por nomes como Maria Bethânia, Elza Soares, Gal Costa e Zeca Baleiro.

“Contra o Tempo” (balada, 1997) – Vander Lee
O primeiro disco de Vander Lee foi feito de maneira independente, e chegou à praça em 1997. Entre os destaques, estava “Contra o Tempo”, uma balada bem ao estilo de Vander Lee, apurada dentro de sua simplicidade. A letra reflete sobre a relação do ser humano com o tempo, em um mundo cada vez mais acelerado, e fala de “bares, ruas, estradas, desertos, luas” que “ó me levam pra onde está você”. Como sempre, o romantismo de Vander Lee surge.

“Românticos” (balada, 1999) – Vander Lee
O segundo disco de Vander Lee, no “Balanço do Balaio”, foi lançado em 1999 pela gravadora Kuarup, e trouxe no repertório o maior sucesso de sua carreira: “Românticos”, uma balada delicada, dolente e sensível, com forte poder de identificação sobre o público. “Românticos são poucos/ Românticos são loucos desvairados/ Que querem ser o outro/ Que pensam que o outro é o paraíso”. Em 2019, a música ganhou uma versão da Orquestra Ouro Preto, com os vocais de Renegado, rapper que manteve longa amizade com Vander Lee.

“No Balanço do Balaio” (samba, 1999) – Vander Lee
Maestro da Orquestra Ouro Preto, Rodrigo Toffolo cultivava o desejo de dedicar um concerto a Vander Lee há mais de três anos. A hora de realizar chegou e marca uma estreia na vida da trupe. “Vem ao encontro de algo novo na nossa história, que é fazer um disco na íntegra, algo que sempre quisemos levar ao público”, conta Toffolo. Ele costuma brincar que possui uma lista com sete discos que o “marcaram profundamente”, e, entre eles, está “No Balanço do Balaio”, lançado por Vander Lee em 1999. A faixa-título faz referência a vários bairros de Belo Horizonte, como São Bento, Savassi, Sion e Anchieta.

“Galo e Cruzeiro” (samba, 1999) – Vander Lee
Mineiro da capital, Vander Lee foi criado na periferia da cidade, em Olho D’Água. Antes de investir na música, ele trabalhou como office-boy, gandula e goleiro no Atlético Mineiro, seu clube de coração, que, aliás, inspirou a divertida “Galo e Cruzeiro”, onde ele aborda um relacionamento afetivo sob a ótica do futebol: “Ela finge que não/ Mas no seu coração/ Ainda sou artilheiro/ Só faz isso porque, meu irmão/ Eu sou Galo e ela é Cruzeiro”. O samba foi lançado no disco “No Balanço do Balaio”, de 1999 e também entrou nesse rol de sucessos.

“Onde Deus Possa Me Ouvir” (balada, 2002) – Vander Lee
A voz cristalina, quase transparente de Gal Costa, se afinou perfeitamente com a lírica de “Onde Deus Possa Me Ouvir”. A baiana foi a primeira a gravar essa balada espirituosa – até mais do que espiritual –, de Vander Lee, revelando ao mundo a beleza de uma de suas mais delicadas canções, capaz de enternecer o coração mais ateu. No ano seguinte, Vander Lee concedeu a sua gravação para o clássico, revisitado por Leila Pinheiro, Simone, Elba Ramalho e o Padre Fábio de Melo, e outros. O irmão Marcos Catarina também costuma canta-la.

“Esperando Aviões” (balada, 2002) – Vander Lee
“Esperando Aviões” é outra canção romântica de Vander Lee que recebeu, primeiro, a voz de uma cantora, no caso Milena Monteiro, que estreava naquele ano de 2002 em disco cujo maior sucesso foi “Temporada das Flores”, tema da novela “O Beijo do Vampiro”. Mas, com o tempo, se afirmou a beleza de “Esperando Aviões”, regravada por Vander Lee no ano seguinte, em 2003, em disco ao vivo que trouxe outras preciosidades, como “Contra o Tempo”, “Alma Nua”, “Sonhos e Pernas” e “Subindo a Ladeira”, em dueto com Elza Soares.

“Sonhos e Pernas” (balada, 2003) – Vander Lee
Com alguma dificuldade, Laura Catarina elege “Sonhos e Pernas” como “a mais linda” do repertório do pai – que contém pérolas como “Esperando Aviões”, “Onde Deus Possa Me Ouvir” e “Estrela” –, e adianta que ela estará em “Canta Vander Lee”, nome, até aqui, provisório. “Selecionei um repertório que tenho muita identificação. Por enquanto, vou deixar o restante ser surpresa”, disfarça. “Não perca o resto do tempo que ainda te resta/ Não perca tempo pensando que a vida não presta/ Certas canções duram pouco, outras são eternas/ Por que carros e aviões, se tens sonhos e pernas”, diz o refrão. A música foi lançada em 2003 em “Emilinha Pinta e Borba”, de Emilinha Borba.

“Estrela” (congado, 2009) – Vander Lee
“Trem do desejo/ Penetrou na noite escura/ Foi abrindo sem censura/ O ventre da morena terra”, esses primeiros versos bastam para apresentar aos incautos a profundidade da poética de Vander Lee, que produz uma música sofisticada baseada na simplicidade, sem pretensões herméticas. Maria Bethânia percebeu a beleza da canção e a lançou em seu álbum “Ecanteria”, de 2009. A versão do autor veio no disco “Sambarroco”, de 2013, pela gravadora Balaio. No comemorativo “Vander Lee: 20 Anos”, ele retornou a essa música preciosa.

“Ninguém Vai Tirar Você de Mim” (rock, 1968) – Hélio Justo e Edson Ribeiro
Em 1968, no disco “O Inimitável”, Roberto Carlos gravou o rock “Ninguém Vai Tirar Você de Mim”, de Hélio Justo e Edson Ribeiro. No repertório, o Rei abria espaço para outros compositores em detrimento de sua obra autoral, cantando Getúlio Côrtes, Antônio Marcos, Luiz Ayrão, Renato Teixeira, Paulo César Barros e Helena dos Santos, mas todas recebendo a inconfundível interpretação do anfitrião, ou, como sublinhava o título do LP, o estilo “inimitável”. Em 2009, no álbum “Faro”, Vander Lee gravou a sua versão para “Ninguém Vai Tirar Você de Mim”, que também foi revisitada por Leonardo, Wando, Reginaldo Rossi, Paulo Ricardo e José Augusto. Ao final da versão de Vander Lee, o amigo Flávio Renegado recita um rap.

“A Vida Não São Flores” (MPB, 2021) – Vander Lee
A música inédita “A Vida Não São Flores” foi resgatada de um baú de inéditas que começa a ser aberto ao longo desse ano de 2021. Feita em um gravador caseiro no formato voz e violão pelo próprio compositor, a música recebeu produção de Felipe Fantoni e orquestração de Enéas Xavier. Ao final, é possível ouvir a “canção nua” original. “Essa é apenas uma das dezenas de canções que ele deixou”, comenta o irmão Marcos Catarina, que também é músico e compositor. Os versos, escritos há cerca de uma década, parecem se comunicar diretamente com os tempos atuais, o que comprova a perenidade de obra de Vander Lee.

Publicado originalmente no portal da Rádio Itatiaia, em 2021.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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