Relembre sucessos de Fafá de Belém, que cantou Chico Buarque e Ivan Lins

*por Raphael Vidigal Aroeira

“Foi assim
Como um resto de sol no mar
Como a brisa da preamar
Nós chegamos ao fim” Paulo André & Ruy Barata

Maria de Fátima Palha de Figueiredo traz, desde o batismo artístico, o orgulho de sua terra. A paraense Fafá de Belém é um acontecimento na música brasileira desde que gravou o primeiro LP, em 1976. Ela também nunca escondeu a idade e não vê problemas em apontar os erros cometidos no passado. “Quando fiz Botox, eu fiquei horrorosa”, afirma, com a conhecida sinceridade. “Desde que cheguei, eu assumo meu corpo e a minha idade”.

No início da carreira, a artista sofreu com o preconceito e foi aconselhada por produtores a emagrecer. Com o apoio da mãe, resolveu fazer o contrário, valorizando o busto e a voluptuosidade de suas formas. “Também não me preocupo com a morte, ela só me assusta quando leva pessoas queridas, deixando um vazio enorme no meu peito”, admite. Aos 65 anos, Fafá de Belém segue a todo vapor, colecionando sucessos e pronta para as novidades.

“Foi Assim” (balada, 1977) – Paulo André e Ruy Barata
Depois de estrear no mercado fonográfico, em 1976, com “Tamba-Tajá”, Fafá de Belém não perdeu tempo e, já no ano seguinte, colocou na praça “Água”, de 1977. O disco vendeu mais de cem mil cópias e a consagrou nacionalmente. No repertório, ela não deixava de prestigiar os conterrâneos Paulo André e Ruy Barata, que já estavam presentes no primeiro álbum. Da dupla, Fafá deu voz a “Foi Assim”, uma balada envolvente, mas dolorida, sobre o término de um relacionamento, que se tornou um dos maiores sucessos da sua carreira. “Foi assim/ Como um resto de sol no mar/ Como a brisa da preamar/ Nós chegamos ao fim…”. O clipe de lançamento da música foi filmado numa praia.

“Dentro de Mim Mora Um Anjo” (MPB, 1975) – Sueli Costa e Cacaso
João Medeiros, que já era parceiro musical de Sueli Costa, foi quem a apresentou ao poeta Cacaso. Carioca criada em Juiz de Fora, Sueli logo se identificou com o mineiro de Uberaba que se mudou para o Rio. Juntos, eles criaram “Dentro de Mim Mora Um Anjo”, que foi gravada, em 1975, por Sueli para a trilha da novela “Bravo”, da Rede Globo. Atenta, Fafá de Belém não demorou a perceber a beleza daquela canção, e a regravou em seu terceiro disco de estúdio, “Banho de Cheiro”, lançado em 1978. A música abria o álbum em que Fafá aparecia na capa com um generoso decote e seu olhar sensual. A música foi gravada por Leila Pinheiro, Lucinha Lins e Wanderléa, entre outras.

“Sob Medida” (MPB, 1979) – Chico Buarque
Em 1979, Chico Buarque compôs a música “Sob Medida” para a trilha do filme “República dos Assassinos”, de Miguel Faria Jr., protagonizado por Tarcísio Meira e que trazia no elenco nomes como Sandra Breá, Anselmo Vasconcelos, Tonico Pereira, Ítalo Rossi e José Lewgoy. A música foi lançada na voz de Fafá de Belém e integrou o quarto disco da intérprete, “Estrela Radiante”, considerado, até hoje, um dos melhores da carreira de Fafá. No repertório também comparecem músicas de Gonzaguinha, Ivan Lins e Dominguinhos. “Sob Medida” é uma das muitas canções em que Chico Buarque revela a capacidade de se apropriar do eu-lírico feminino. Regravada por Simone e Maria Bethânia, a música versa sobre amor com altas doses de sensualidade.

“Bilhete” (MPB, 1980) – Ivan Lins e Vitor Martins
Ivan Lins e o parceiro Vitor Martins passavam o mês de dezembro em Teresópolis, na região serrana do Rio, e, há dias, tentavam compor uma canção sem sucesso. Diante da situação, Dona Carmelita, a empregada, sugeriu que eles fossem a uma benzedeira da região conhecida como Madalena. Lá, eles receberam alguns passes, e, no dia seguinte, a inspiração para “Bilhete” subitamente apareceu. A música foi lançada por Ivan Lins em 1980 que acredita que Vitor, autor da letra, estava tomado por uma entidade feminina. No ano seguinte, Dóris Monteiro concedeu sua versão para a música, regravada com enorme sucesso por Fafá de Belém em 1982, para o disco “Essencial”. A música acabou na trilha da novela “Sol de Verão”, da TV Globo.

“Menestrel das Alagoas” (clube da esquina, 1983) – Milton Nascimento e Fernando Brant
Em março de 1983, Fafá de Belém ganhou de presente uma música dos amigos Milton Nascimento e Fernando Brant, batizada de “Menestrel das Alagoas”. Imediatamente ela se perguntou por que havia sido escolhida para homenagear Djavan. Logo o engano se desfez e ela recebeu no estúdio o verdadeiro homenageado, o senador Teotônio Vilela, um dos símbolos pela redemocratização do Brasil, que lutava contra um câncer e faleceria antes de a canção ser entoada por Fafá nos comícios pelas Diretas Já. Na ocasião, a cantora também abriu uma caixa com uma pomba branca que voou, levando a mensagem de esperança, por sugestão do cartunista Henfil. “Menestrel das Alagoas”, assim, se tornou emblema de um momento histórico para todo Brasil.

“Nuvem de Lágrimas” (sertaneja, 1989) – Paulinho Rezende e Paulo Debétio
Gravado por nomes como Alcione, Elba Ramalho, Zeca Pagodinho, Jorge Aragão, Emílio Santiago, Martinho da Vila, Beth Carvalho, Wando e muitos outros, o compositor Paulinho Rezende voltou a demonstrar a sua versatilidade em 1989 com o sucesso de “Nuvem de Lágrimas”, parceria com Paulo Debétio, lançada por Fafá de Belém e Chitãozinho & Xororó. A música foi gravada no disco “Fafá”, reuniu a cantora paraense à dupla sertaneja e se tornou um dos grandes clássicos do gênero. Em 1991, Fafá faturou o Troféu Imprensa de melhor canção graças a “Nuvem de Lágrimas”. A música ganhou versões recentes de Paula Fernandes, Marília Mendonça, Maiara & Maraisa, e outros.

“Vermelho” (toada, 1996) – Chico da Silva
Anualmente, a cidade de Parintins, no Amazonas, recebe o tradicional Festival Folclórico de Parintins, onde tradicionalmente é realizada a disputa entre duas agremiações folclóricas: Boi Garantido (vermelho) e Boi Caprichoso (azul). A toada “Vermelho”, de Chico da Silva, foi composta para essa manifestação cultural, mas acabou fora da trilha oficial do festival. Fafá de Belém se interessou para música e convidou o compositor para interpretá-la com ela, mas Chico da Silva achou que sua voz não estava à altura do desafio, indicando o amigo David Assayag. Lançada por Márcia Freire, “Vermelho” estourou em todo o Brasil com “Pássaro Sonhador”, lançado por Fafá em 1996.

“Abandonada” (balada, 1996) – Michael Sullivan e Paulo Sérgio Valle
O disco “Pássaro Sonhador” rendeu a Fafá de Belém o Disco de Platina pelas milhões de cópias vendidas. Influenciado por ritmos amazônicos, o álbum traz alguns dos maiores sucessos da carreira da cantora, entre eles, “Abandonada”, uma balada de Michael Sullivan e Paulo Sérgio Valle. A música pega na ferida das paixões que se desfazem, e ganhou uma regravação em dueto de Johnny Hooker com Fafá em 2021, como parte do projeto “Macumba Ao Vivo em Recife”. Em 2015, Fafá deu voz a “Volta”, música de Hooker, iniciando a parceria entre os dois. “Abandonada por você/ Tenho tentado te esquecer/ No fim da tarde, uma paixão/ No fim da noite, uma ilusão/ No fim de tudo, a solidão”, canta Fafá, que também reviveu a música em apresentações ao vivo.

“Aparências” (balada, 1981) – José de Ribamar Cury e Ed Wilson
A história de “Aparências” é das mais mirabolantes da música brasileira. Um dos compositores, José de Ribamar Cury, um jovem bancário que morava em Ipanema, foi levado até o apartamento de Roberto Carlos e passou a travar uma amizade com o astro. Quando soube da separação entre o Rei e a primeira esposa Nice, Cury enviou a música “Aparências”, que já estava pronta desde 1979, para o cantor. Mas Roberto Carlos não deu bola. Dois anos depois, o belo-horizontino Márcio Greyck a gravou, mas pediu que Cury alterasse os últimos versos, por considera-los muito desesperançados. Cury se juntou ao parceiro Ed Wilson e atendeu ao pedido. A música estourou em todo o Brasil e levou Greyck ao exterior. Fafá de Belém a regravou no ano de 1996.

“Desabafo” (balada, 1979) – Roberto Carlos e Erasmo Carlos
Entre os muitos, milhares, inúmeros sucessos de Roberto Carlos, o disco lançado pelo Rei em 1979 ainda é considerado um dos melhores da carreira pelos fãs mais aficionados. No repertório, ao menos duas canções que, volta e meia, estão presentes em shows: “Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo” e “Desabafo”, típica canção de amor que remonta à nossa tradição de dor de cotovelo. “Porque me arrasto aos seus pés/ Porque me dou tanto assim/ E porque não peço em troca/ Nada de volta pra mim”, diz a música de Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Nada mais apropriado para o canto derramado e quente de Fafá de Belém, escolhida para reviver o clássico no álbum “Elas Cantam Roberto Carlos”, que chegou à praça em 2009, com um time estelar.

“Toda Forma de Amor” (pop, 1988) – Lulu Santos
Lulu Santos já era uma febre do pop nacional, com assinatura própria, quando colocou na pista, em 1988, “Toda Forma de Amor”, um dos maiores sucessos da sua carreira, que deu nome ao seu sexto disco de estúdio. A música entrou para a coleção de hits que o compositor costuma rebobinar de tempos em tempos. Apesar do título inclusivo, a música traz o verso “eu sou teu homem, você é minha mulher”, modificado por Lulu em algumas ocasiões para “eu sou um homem, me diz você qual é?”. Apenas em 2018, o cantor assumiu sua homossexualidade. “Toda Forma de Amor” recebeu uma regravação revigorante e densa da cantora Fafá de Belém, em 2019, no elogiado disco “Humana”.

“Alinhamento Energético” (pop, 2019) – Letrux
Alçada ao posto de musa do movimento “Diretas Já” na década de 1980, a cantora Fafá de Belém não tem dúvidas de que “o país está cindido ao meio”. “É duro a gente sair de uma ditadura para discutir qual a melhor democracia, se a minha ou a sua. Eu não tolero qualquer tipo de autoritarismo ou medida extrema, seja da esquerda ou da direita”, declara. Uma das faixas de “Humana”, disco lançado em 2019, toca diretamente nessa ferida. “Alinhamento Energético”, de Letrux, diz: “Que fase louca/ Que fase doida/ Que ano é esse?/ O que é que vem depois?/ Eu tô exausta, eu tô perdida”. “Acredito na capacidade plural do nosso povo, temos a chance de nos unir em torno de uma pauta emblemática para o planeta, que são as queimadas na Amazônia”, afirma.

Publicado originalmente no portal da Rádio Itatiaia, em 2021.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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