Prazer, orgasmo: 17 músicas feministas e brasileiras sobre sexo

*por Raphael Vidigal

“Meu bem você me dá água na boca
Vestindo fantasias, tirando a roupa
Molhada de suor, de tanto a gente se beijar
De tanto imaginar loucuras” Rita Lee

O Brasil ainda vivia sob o domínio de uma ditadura militar quando Gal Costa tornou-se a primeira mulher a cantar, com sucesso de dimensões nacionais, a palavra “sexo” na música brasileira. “Pérola Negra”, de Luiz Melodia, era uma das faixas do icônico álbum “Fa-Tal: Gal a Todo Vapor” – paradigma do movimento tropicalista – e trazia em seu refrão o trecho “tente entender tudo mais sobre o sexo”. Decorridas décadas e até séculos dos acontecimentos descritos o prazer da mulher, especialmente aquele sexual, parece ainda ocupar o lugar de tabu na prateleira dos costumes, mas há quem insista em mudar o curso dessa história. São os casos de Karol Conka, Iza, Tulipa Ruiz, Flaira Ferro, Vanessa da Mata, Letrux, Iara Rennó e outras compositoras de uma cena ampla e diversa, que ultrapassaram o mero papel de intérpretes a que artistas de gerações anteriores estiveram relegadas.

Quando Carmen Miranda brincou com o duplo sentido na carnavalesca “Eu Dei”, de 1937, ela teve que se valer dos versos de Ary Barroso. O mesmo aconteceu com a cantora portuguesa Vera Lúcia, primeira intérprete da lânguida e sensual “Amendoim Torradinho”, obra de Henrique Beltrão lançada por ela em 1955, e que depois ganhou as vozes de Ney Matogrosso, Angela Maria, Alcione, Dóris Monteiro e Ivon Curi, entre outros. O fato ainda era comum no ano em que Maria Bethânia gravou, “O Meu Amor”, de Chico Buarque, em 1978.

Outra mudança aparece na linguagem. As metáformas utilizadas por Rita Lee, Angela Ro Ro, Joyce, Fátima Guedes, Marina Lima e Paula Toller nos anos 80 foram substituídas por expressões que não deixam dúvida sobre seu sentido. “Teta”, “clitóris”, “orgasmo”, “lambida”, “excita” e “goza” tornaram-se “palavras de ordem”, e são cada vez mais recorrentes. Apesar dos avanços, está claro que a conquista por espaço ainda caminha a passos lentos. Uma prova são os casos de censura. O clipe de “Lalá”, da rapper curitibana Karol Conka soma, hoje, pouco mais de 6 milhões de visualizações. Colocado na rede em junho de 2017, ele despertou reações que culminaram com sua retirada do YouTube.

O mesmo aconteceu com Flaira Ferro. Cantora, compositora e dançarina, a recifense causou furor na internet ao lançar, em março, o clipe “Coisa Mais Bonita”, que, além de tratar da sexualidade feminina, mostrava mulheres se masturbando. Retirado do YouTube no dia seguinte à publicação, o vídeo retornou, com restrição de idade, graças a uma campanha na rede que agregou fãs e pessoas sensíveis à causa. Outros países não estão imunes a polêmicas desse tipo. No mês de fevereiro a banda espanhola Texxcoco teve o clipe de “Velvet Love” censurado na rede, porque mulheres apareciam exibindo os seios.

1 – “Mania de Você”
Artista: Rita Lee
Ano: 1979
Trecho: “A gente faz amor por telepatia
No chão, no mar, na lua, na melodia
Mania de você, de tanto a gente se beijar
De tanto imaginar loucuras”

2 – “Lança Perfume”
Artista: Rita Lee
Ano: 1980
Trecho: “Me vira de ponta-cabeça
Me faz de gato e sapato
Me deixa de quatro no ato
Me enche de amor, de amor”

3- “Preciso Tanto!!!”
Artista: Angela Ro Ro
Ano: 1980
Trecho: “Eu faço gostoso e com jeito
Pra você não botar defeito, no meu amar
Eu faço de tudo o que posso
Até o que é meu já é nosso, pra te ganhar”

4 – “Como Eu Quero”
Artista: Kid Abelha
Ano: 1984
Trecho: “Diz pra eu ficar muda
Faz cara de mistério
Tira essa bermuda
Que eu quero você sério”

5 – “O Filho Preferido do Rajneesh”
Artista: Pato Fu
Ano: 1999
Trecho: “Você sabe que a mulher
Tem um apetite sexual
Dez vezes maior que o seu, amigo meu?”

6 – “Abre as Pernas, Mete a Língua”
Artista: Tati Quebra-Barraco
Ano: 2000
Trecho: “O tempo já é moderno
E sexo tem que variar
Se eles quer que você mame
Manda eles te chupar”

7 – “Sadomasoquista”
Artista: Deize Tigrona
Ano: 2006
Trecho: “Sou tigrona chapa quente
Adoro muita presão
Gosto de ser acorrentada
E levar tapão no popozão”

8 – “My Pussy É o Poder”
Ano: 2011
Artista: Valesca Popozuda
Trecho: “Na cama faço de tudo
Sou eu que te dou prazer
Sou profissional do sexo
E vou te mostrar por que”

9 – “Desinibida”
Artista: Tulipa Ruiz
Ano: 2012
Trecho: “Gosta de ter o dia livre
Tudo que pinta satisfaz
Dormiu com todos os amigos
Sobreviveu a carnavais”

10 – “Toda Humanidade Nasceu de Uma Mulher”
Artista: Vanessa da Mata
Ano: 2014
Trecho: “Vai ver que sou uma menina
Só quero me divertir
Porque toda a humanidade
Nasceu de uma mulher”

11 – “Pra Fuder”
Artista: Elza Soares
Ano: 2015
Trecho: “Olho pro meu corpo sinto a lava escorrer
Vejo o próprio fogo não há força pra deter
Me derreto tonta, toda pele vai arder
O meu peito em chamas solta a fera pra correr”

12 – “Vulva Viva”
Artista: Iara Rennó
Ano: 2016
Trecho: “Chuva que a pele não enxuga
Lágrima a caminho de uma ruga
Água viva, Água vulva, água viva”

13 – “Lalá”
Artista: Karol Conka
Ano: 2017
Trecho: “Moleque mimado bolado que agora chora
Só porque eu mandei ajoelhar
Fazer um lalá por várias horas”

14 – “Que Estrago”
Artista: Letrux
Ano: 2017
Trecho: “Cuidado, farol tá aceso
Cuidado, maré tá enchendo
“Suas pernas cruzadas
Suas pernas abertas”

15 – “Mulher”
Artista: Linn da Quebrada
Ano: 2017
Trecho: “Parou entre uns edifícios
Mostrou todos os seus orifícios
Ela é diva da sarjeta
O seu corpo é uma ocupação”

16 – “Você Não Vive Sem”
Artista: Iza
Ano: 2018
Trecho: “Me fode a cabeça
E antes que eu me esqueça
Você não vive sem ãn ãn ãn ãn”

17 – “Coisa Mais Bonita”
Artista: Flaira Ferro
Ano: 2018
Trecho: “Não tem coisa mais bonita
Nem coisa mais poderosa
Do que uma mulher que brilha
Do que uma mulher que goza”

Crédito das fotos: YouTube/Reprodução; Bruna Valença Coutinho/Divulgação, respectivamente.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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