“Ele é pequeno e quieto, a cor é preta
Desde a ponta da orelha ao rabo esguio;
Esgueira-se na mais estreita greta
E se equilibra no mais frágil fio.” T. S. Eliot
A reforma política vem sendo discutida no Brasil desde o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, em 1995. Durante esses 15 anos que se passaram as mudanças ocorridas foram a implantação do direito à reeleição e a fidelidade partidária, que determina que o mandato pertence ao partido e não ao político.
As duas mudanças são interessantes, na medida em que o Brasil é um país onde tradicionalmente vota-se com maior freqüência na figura do que em quem a segura. Não é de hoje que a estrela de Lula brilha mais que a do PT.
Já no que diz respeito à reeleição é interessante notar como as conseqüências que atingem os que estão no poder interferem diretamente nas mudanças que ocorrerem ou não na política brasileira. O cientista político Tomaz Alvarenga, formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 2006, ressalta como aspectos da reforma política retratam isso: “A reforma política não sai do papel por uma questão simples: muitos dos seus projetos precisam do aval dos próprios congressistas, que postergam essa reforma de acordo com seus interesses. Por exemplo, aquele louvável projeto de iniciativa popular para impedir que candidatos com “ficha suja” concorram nas eleições está parado no Congresso simplesmente pelo fato de depender do voto dos próprios congressistas e muitos deles, estão com a “ficha suja” e não possuem a menor pressa em votá-lo, para não dizer que “não irão votá-lo”.”
Dessa forma, Tomaz Alvarenga retrata uma antiga mentalidade de grande parte dos políticos brasileiros, e quem sabe até, do ser humano, a de pensar primeiro em seus interesses particulares, para depois refletir sobre os mal fadados “interesses da nação”.
Logo, a palavra-chave para a discussão torna-se “interesse”. Roberta Sá canta que “se vocês querem saber por que é que eu gosto dele, interessa?”, e a resposta é óbvia, não interessa a ninguém. Já no caso da reforma política é diferente, pois diz respeito a todos os cidadãos brasileiros e estrangeiros que vivem no país, como afirma o deputado estadual pelo PT de Minas Gerais, André Quintão, que cobra uma maior participação e pressão da sociedade sobre os políticos para que a reforma aconteça: “Há muita insegurança e pragmatismo na resistência do Congresso em debater com profundidade uma reforma e defender regras novas que possam alterar o quadro de representação política. Nesse sentido, considero que se torna ainda mais importante a mobilização da sociedade em defesa de uma reforma ampla. Hoje, no Congresso eleito, certamente vota-se uma reforma restrita, que não altera na essência o sistema eleitoral.”
E a conclusão disso tudo vem a nos parecer óbvia demais no país das ambigüidades. Se Jesus não tem dentes no país dos banguelas, como disseram os Titãs, não os que enfrentaram os deuses do Olimpo, mas os de São Paulo, e não tem drogas no país dos caretas, como disse Lobão, não o Ministro de Minas e Energia, mas o músico da MTV, não seria muito difícil entender porque político (geralmente) não carrega tijolo no país das reformas, o que poderá doer em suas costas. Agora, se alguém empurrar o carrinho pra ele e der uma mãozinha, aí quem sabe? Já que é pra protestar pela reforma, chamem Martinho Lutero.
Raphael Vidigal
Produzido para a matéria de Jornalismo Político na PUC Minas em 2010.
Charges: Obras de Son Salvador e Alpino, respectivamente.