“O futuro, ai de mim, me é mais próximo que o instante já.” Clarice Lispector
Da onde viemos? Por quê estamos? Para onde vamos? Essas perguntas filosóficas sempre angustiaram o homem. E é essa última em especial que vem sendo feita com maior freqüência nos últimos dias.
Após um relativamente curto período de crise que atingiu o Brasil, a dúvida é saber o que vem a seguir. A descoberta do pré-sal e o direito de sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 terão papel decisivo na resposta dessa pergunta.
De acordo com o economista Rafael Dello, professor da UNATEC, a filosofia econômica que associa investimento a crescimento não tem dúvidas de que o primeiro ocorrerá em virtude da realização dos dois maiores eventos esportivos do mundo no país. No entanto já não é tão certo que o segundo ocorra, pois não se sabe qual será a real natureza desses investimentos, e se eles de fato trarão melhorias para a população brasileira. Outra preocupação que se tem é com relação à histórica corrupção que assola a política nacional.
A mesma dúvida ocorre em relação ao pré-sal. Em virtude das questões ambientais que vêm ganhando cada vez mais importância no cenário mundial, Rafael atenta para o fato de que “é preciso usar cada vez menos petróleo”, e completa “se o dinheiro do pré-sal for usado para pesquisas no campo das energias renováveis, educação, infra-estrutura e transferência de tecnologia aí teremos um quadro favorável, caso contrário, se for usado apenas para criar estádios ultra-modernos aí a situação se inverte.”
Outro perigo é o país se deslumbrar com a possibilidade de se transformar em um grande importador de petróleo e nada mais, seguindo uma tradição decorrente da vocação natural do país, conseqüente de suas riquezas naturais mas também de um velho complexo de vira-lata descrito pelo jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues. O que traria obviamente o risco da inflação. Para que isso não ocorra é necessário encarar a situação com realismo e sem fantasias árabes. Por mais que pareça, não estamos no Caminho das Índias.
Outra questão posta é a do crescimento sustentável, sobre isso Rafael Dello é taxativo: “programas como o Bolsa-Família nos trouxeram um crescimento de consumo, mas não sustentável, a Amazônia continua sendo devastada.” E daí coloca-se outra questão filosófica, que será determinante para todo o processo, “o que é melhor? Riqueza ou qualidade de vida?” questiona o economista. Noel Rosa, em sua canção chamada Filosofia cantou: “Nesta prontidão sem fim, vou fingindo que sou rico pra ninguém zombar de mim”, e em outro verso, mais tarde, completa: “Que tem dinheiro, mas não compra alegria.”
Para onde vamos? Tudo dependerá da filosofia.
Raphael Vidigal
Produzido para a matéria de Jornalismo Econômico na PUC Minas em 2009.
Caricaturas de Nássara.