“Era um vale./De um lado/Seu verde, suas brancuras.
Do outro/Seus espaços de cor/Trigais e polpas
Azuladas de sol/Ensombradas de azul.
Era um vale./Deveria/Ter pastores/E água
E à tarde umas canções,/Alguns louvores.” Hilda Hilst
Lucas Telles não brinca em serviço. Ou melhor, brinca e faz do serviço uma obra artística, capaz de entreter e levar o espectador a estados de emoção e reflexão ao mesmo tempo. Para isto ele mune-se de seu violão, com o qual, aliás, já ganhou vários prêmios, entre e fora das Minas Gerais, mas também do repertório de nomes salutares ao nosso choro, um dos primeiros e mais autênticos estilos musicais desta terra descoberta por índios e oficializada por portugueses, quais sejam Garoto, Juarez Moreira, Cristóvão Bastos, Egberto Gismonti, Radamés Gnattali, além de criações do próprio protagonista.
É claro que haverá espaço para o que de melhor a música instrumental foi capaz de legar ao mundo, da longínqua valsa à composição de vanguarda que não se atém a estes batismos outros. Mas o que os comunga, além do gênero, é outra vedete. O espetáculo homenageia o violão brasileiro. Lucas bole e chora com o tempo, este preceito tão caro ao ofício, e percorre décadas no espaço do sentimento. O que se mantém nessa liturgia, além da nacionalidade do instrumento, está na força de arrebentação, a prova de que nem sempre a qualidade é subjetiva. Quem puder, segure o fascínio. Ou se entregue a ele.
Serviço
Projeto “Violões Pela Cidade”
Concerto de Lucas Telles – O Violão Brasileiro
CCSB (Centro Cultural São Bernardo) – rua Édna Quintel, 320
25 de agosto, quinta-feira, às 20h. Entrada gratuita.
Raphael Vidigal
Fotos: Élcio Paraíso; e Divulgação, respectivamente.