*por Raphael Vidigal
“A verdade do piano não é o piano: são as músicas que ele pode tocar.” Rubem Alves
O mineiro Hervé Cordovil (03/02/1914 – 16/07/1979) transitou pelos mais variados gêneros com a mesma eficácia, para dizer pouco. Isso porque o pianista, regente e compositor desencorajado por Eduardo Souto, diretor da Casa Edison, no início de carreira, escreveu parcerias com Noel Rosa, Lamartine Babo e Luiz Gonzaga, para citar alguns. E foi ele o compositor sozinho de sucesso de Dick Farney, “Uma Loura”, e da Jovem Guarda, “Rua Augusta”. Nascido em Viçosa, Hervé conquistou quietinho o reconhecimento, e sem fazer barulho, apenas som de primeira.
Pé de manacá (baião, 1950) – Hervé Cordovil e Mariza Pinto Coelho
“Pé de manacá” foi composto por Hervé Cordovil em parceria com sua prima Mariza Pinto Coelho e alcançou sucesso em 1950, na interpretação de Isaurinha Garcia. O baião inocente revela a essência pura e simples do amor, enfeitado por versos de rara simplicidade.
Sabiá lá na gaiola (baião, 1946) – Hervé Cordovil e Mário Vieira
Quem não carrega consigo em sua memória afetiva os versos chorosos da menina que perdeu o passarinho e o espera voltar? É o sabiá lá na gaiola de Hervé Cordovil que nos faz reviver momentos de alegria e tranqüilidade. A parceria com Mário Vieira de 1946 virou sucesso 4 anos depois, na gravação de Carmélia Alves.
Uma loura (samba-canção, 1951) – Hervé Cordovil
Dick Farney pergunta “quem não teve uma loura” com seu charme grave e sua elegância. A música composta por Hervé Cordovil em 1951 ganha em sensualidade ao receber os ares de Dick Farney, que canta como se cantasse a loura.
A vida do viajante (baião, 1953) – Hervé Cordovil e Luiz Gonzaga
Um dos prefixos adotados pelo Rei do Baião, Luiz Gonzaga, foi cunhado por seu parceiro Hervé Cordovil, que compôs com ele “A vida do viajante”. Luiz Gonzaga levou na bagagem versos de afinada sintonia e inspiração com sua pessoa de artista: “minha vida é andar por esse país…”.
Triste cuíca (samba, 1934) – Hervé Cordovil e Noel Rosa
A tristeza aguda da cuíca que geme feito um boi é a tônica do samba de 1934 composto por Hervé Cordovil e pelo genial Noel Rosa. O clima tenebroso se acentua quando revela-se os contornos de uma relação onde o ciúme encobre o amor. Laurindo e Zizica são os personagens de um romance com final triste.
Rua Augusta (rock, 1964) – Hervé Cordovil
“O primeiro hino do rock brasileiro”, segundo Erasmo Carlos e Tony Campelo, Rua Augusta foi composta por Hervé Cordovil quando ele tinha 50 anos, em 1964. Ao ingressar no ritmo da Jovem Guarda, Hervé comprovou mais uma vez seu talento como compositor em várias áreas. Lançada por seu filho, Ronnie Cord, a música teve versos censurados pela ditadura, mas mesmo assim alcançou amplo sucesso.
Lido na rádio Itatiaia por Acir Antão em 13/02/2011, 12/02/2012 e 17/02/2013.
20 Comentários
Maestro Hervé Cordovil entre o samba, rock e baião…pé de manacá, vc quer???delícia
ELE E MARAVILHOSO
Obrigado por mais uma aula, Vidigal. Sempre bom rever e conhecer um pouco mais desses talentos tão pouco lembrados na nossa mpb. Valeu!
Obrigada vc pela ótima publicações e conteúdo
Obrigada, Raphael Vidigal …..adorei a homenagem!
ano que vem é o centenário dele!!!! Vamos preparar algumas coisas pra essa comemoração! Podemos contar com vc?
Que bom!!!! mais uma vez agradeço seu carinho!!! vamos mantendo contato!
Você sabe de quem é “Sabiá lá na gaiola fez um buraquinho… ?” Hum? Nâo… Então, fique por dentro da obra de Hervé Cordovil. Um bom texto de Raphael Vidigal em sua ESQUINA MUSICAL.
Eu não sabia! Essa música me fazia chorar toda vez que minha avó cantava para mim…
Parabéns pelo trabalho!
Aí, Rô (Rosilda Figueiredo)… verdade significativa da nossa infância! Grande Sr. João Figueiredo, simples, engraçado e autêntico contador de histórias… pai, amigo, mestre, doutor, rs. Quanta “mentirada gostosa” que nos fez ser quem somos hoje! “a menina que gostava tanto do bichinho chorou, chorou, chorou…”
Nossa mae. PEnsava que era dominio publico! aff erro gravissimo!
Bom dia, Raphael,
Sou produtora da Cantora Manu Santos (www.manusantos.com.br), do Rio de Janeiro. Gostaria de apresentar-lhe seu trabalho.
Conheço o “Esquina Musical” e sou fã do seu trabalho!
Isso é cultura e das boas então não pode passar
LEGAL Raphael Vidigal!!!! ?!
Beatriz Myrrha! Quando criança eu chorava copiosamente de emoção quando ouvia “e a coitada da menina que gostava do bichinho chorou…chorou…” Ai…ai…ai!!!
Obrigada a você por nos trazer a memória de volta, Raphael Vidigal. Pois que tal começarmos a preparar algo por esta data? Mais do que merecido pra ele, uma obrigação para nós! Todos devemos muito a beleza que ele nos trouxe!
Beijão!
que informação importante, Beatriz! obrigada!!!
Espere ai, tem quanto tempo que esse moço morreu? Entao é dominio publico sim ue. rsssss Nossa que confusao que arrumei. hahaha e que bom saber de quem foi a autoria!
O Hervê era meu primo, e no meu tempo de ginásio, ainda morando em BH, passava as férias com o colega “Ronnie Cord” em sua casa em São Paulo. Já “curtindo” música, ficava extasiado ao vê-lo compor ao piano cancôes como “Jangada”(com Vicente Leporace) e “Prece a São Benedito”. Parabéns pelo seu importante trabalho.
Sósia do nosso grande Jânio Quadros…parabéns maestro!!!pelas duas virtudes.
Raphael Vidigal, parabéns pelo seu trabalho.
Sou advogado e historiador. Há muito venho dedicando um tempo em pesquisas sobre este notável da MPB, inclusive tenho um vasto acervo sobre a vida dele. E o mesmo foi tema de meu TFL em História quando escrevi um roteiro musical, apresentado e dançado pelas alunas do Curso de Dança da universidade Federal de Viçosa – UFV.
Estamos preparando uma linda comemoração para o seu centenário (3/02/2014).