João Gordo virou símbolo do movimento punk no Brasil e no mundo

Ratos de Porão

*por Raphael Vidigal

“Como fosse um porão cuja chave é perdida,
Então ficou igual aos bichos da avenida,
E, quando ele se ia embora nada vendo
Pelos campos, iguais inverno e verão sendo,
Sujo, imundo e feioso como coisa usada” Baudelaire

Rato de porão, vômito verme varizes. No ano da ditadura militar brasileira, num dia 13 caveira, macabro, abriu a tampa do esgoto e despencou nesse mundo colhido-calado. Provocou enorme barulho, em vista de seu tamanho desproporcional. Gordo grande grunhindo gritos de guerra poupando refrão.

Cão espumando, chupando manga. Esqueleto de gosma e fúnebre sarcasmo detonou dinamite gargalhou explosão. Cuspe na morte. Quebrar, incompreensível. Descrente desesperança e virulento discurso político.  Cru, agride. Escroto, corvo, massacre. Carnificina, esquizofrenia, saliência. Sexo e bebedeira. Sujo.

Podridão podre escravidão escave. O escravo calvo cava o fundo crasso. Sentenciam? Denunciam? Estertores da bomba atômica? Canivetes e mobílias, tatuagens e garagens, dum futuro cinza, duma era cinza, um muro pichado em gangrena alicate e verniz brilho fosco abala sísmico sistematicamente.

Tormenta de Goya; pintura clássica, neo-realista é debandada ao intestino, vísceras, sucos gástricos da mátria. Porrada porrada porrada porrada porrada porrada. ‘Chutou a cara do cara caído’. Saturno devorando seus filhos. Passado estúpido. Futuro fim. Presente ina-tingido inalcançável golfado. Expulso cadeia tranca cadeado.

Turnê pela Europa (Alemanha, Itália, Noruega, Finlândia). Punk. “a guerra do homem, os pés como relâmpagos, o homem dobrado sobre o homem, eu devorava o meu estômago.” Ferreira Gullar. Mártires estrangulados, com a goela abaixo do bueiro. Atroz bueiro. A trás estômago. João Gordo.

João Gordo canta

Brigão
João Gordo desafiou os padrões rígidos e normativos do mundo punk ao se consagrar como um dos mais bem-sucedidos apresentadores da MTV Brasil, o que lhe valeu o estigma de traidor do movimento. A alcunha foi lembrada por Dado Dolabella no conhecido episódio em que ambos partiram para as vias de fato durante uma entrevista na emissora. Mas a fama de não levar desaforo para casa de João Gordo já era conhecida pelos roqueiros nacionais há muito tempo.

Os entreveros com Cazuza na boate Madame Satã tiveram que ser apartados por mais de uma vez. Habitué de uma das casas de shows mais alternativas da noite paulistana nos anos 80, João Gordo conta que costumava cruzar por lá com Cazuza, e que eles se desentenderam por mais de uma vez, chegando às vias de fato e se agredindo fisicamente. Gordo diz que Cazuza “era muito escrachado”. Quando o assunto é política, João Gordo tampouco se faz de rogado, sendo um dos críticos mais contundentes da extrema-direita nacional.

Compartilhe

Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Email

Comentários pelo Facebook

6 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Recebas as notícias da Esquina Musical direto no e-mail.

Preencha seu e-mail:

Publicidade

Quem sou eu


Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

Categorias

Já Curtiu ?

Siga no Instagram

Amor de morte entre duas vidas

Publicidade

[xyz-ips snippet="facecometarios"]