Show: Warley Henrique

Cavaquinista mineiro presta homenagem à altura de Waldir Azevedo

Cavaquinho mineiro

Aquecidos os instrumentos, o show começa morno para o que está por vir. Grande atração da noite, o cavaquinista que irá solar Waldir Azevedo é o último a entrar em cena, onde já lhe aguardam os acompanhantes, Gustavo Monteiro no violão, Ricardo Acácio e Robson Batata comandando as percussões.

Ao atacar a primeira leva de músicas no instrumento principal daquela chuvosa confraternização, Warley Henrique não esboça gracejos ou palavras. Somente se entrega ao cavaquinho que a ele pede esmola e recebe de troco notas e mais notas premiadas.

Com o tom jazzístico que lhe é peculiar, as canções de Waldir Azevedo passam pelo crivo de Warley, seu xará em W, aglutinando e desfazendo todas as possibilidades que cruzam ou nunca cruzaram o alfabeto do chorinho tradicional.

Requinte e habilidade, misturada à perspicácia dum humor sórdido e ácido ajudam a enovelar a platéia na bola de gato que se estende à mão de criança dos que foram ao Conservatório da UFMG para brincar.

Warley altera a rota, extrapola repertório, tempo, língua, cordas. Toca Pixinguinha em dia de Waldir Azevedo. Conta a história trocada das músicas ‘Rosa’ e ‘Carinhoso’. Esgarça a apresentação para que possam cair mais gotas do sumo que escorre em melodias e notas. Chama ao palco o cantor Mauro Zockratto, que agora trocou de nome e complica-lhe o falar.

Mas fundamentalmente inventa para a injúria de 4 cordas uma extensão a mais, ampliando possibilidades, conduzindo ao novo que não perde a essência. Toca num cavaquinho de 5 cordas como quem assovia aos pássaros e recebe resposta.

O final que nunca acaba é como o doce feito pela avó que não se quer tirar da boca. Todos os convidados reunidos em comunhão com a platéia que silenciosa atende em coro com admiração e perplexidade. Pilares e pilastras e acordes retumbam em apoteose.

Mauro Zockratto exibe a beleza grave de sua voz. Os percussionistas, Ricardo Acácio e Robson Batata, maltratam com louvor os instrumentos. Gustavo Monteiro salienta a presença de seu violão, e Warley Henrique simula o fim, para depois surpreender com coragem: covardia o que arranca do seu cavaquinho.

Waldir Azevedo

Raphael Vidigal

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7 Comentários

  • Puxa Raphael, muito obrigado. Depois de ter lido o texto impecável sobre o show do Warley, me sinto feliz com o seu elogio. Você escreve bem e é muito antenado; nosso Tarik de Souza…rs. Abraço.

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  • Eu que lhe agradeço o elogio e a performance no show de segunda-feira! O texto só foi possível pela inspiração que vocês me proporcionaram. Grande abraço, Mauro Zockratto!

    Resposta

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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