Entrevista: O Balanço Diferente de Mario Broder

“‘Tome conta do sentido, e os sons tomarão conta de si mesmos’.” Lewis Carroll

Mario-Broder-diferente

Mario Broder tem o seu trabalho reconhecido como cantor principalmente pelo desempenho à frente do grupo “Farofa Carioca”, mas ele também é ator – interpretou o sambista célebre Wilson Batista na cinebiografia de Noel Rosa dirigida por Ricardo van Steen em 2006 (“Noel – Poeta da Vila”) – e compositor. Lançou, em 2013, o primeiro trabalho solo, “Balanço Diferente”, já disponibilizado no iTunes, em que assina algumas das faixas, como “Navegar”, ao lado de Sandro Márcio, e “Operária brasileira”, cuja parceira é ninguém menos que Elza Soares, que também canta na faixa. “O disco acabou de entrar nos Estados Unidos pelo iTunes”, celebra Mario, que revela o incentivo decisivo do produtor Eduardo Chermont para a concretização do álbum. “Ele foi bastante incisivo ao dizer que estas composições já deveriam ter saído da gaveta há bastante tempo”, orgulha-se.

Composto por onze faixas, o disco de Mario Broder transita por ritmos consagrados e contemporâneos, com a utilização de música eletrônica e instrumentos tradicionais do samba. A alternativa em lançar o trabalho prioritariamente pela plataforma virtual o faz analisar o atual cenário da cultura brasileira. “Eu acredito que seja a grande virada dos artistas que deixaram de depender única e exclusivamente das gravadoras”, analisa, não sem antes considerar esta uma época “bem democrática, com muita gente lançando EP´s e discos na internet”, sublinha. Sobre as suas preferências e o que vê de novo e interessante na atualidade, o entrevistado é enfático. “Muito me interesso pelos artistas independentes, o cenário do Rap nacional está muito estruturado e com bons representantes. No nordeste, por exemplo, tem o Rapadura, que na sua maneira de rimar usa o repente como base. Gosto muito!”, enaltece.

BALANÇO
Mario lançou, em 2011, o CD “Lascamão”, com a orquestra de mesmo nome, fundamentada na percussão, da qual participou, ao lado de nomes como Robertinho Silva, Carlos Negreiros, Marcos Esguleba, Pedro Lima, Orlando Costa, Analimar Ventapane e Guto Goffi, este último lendário baterista do Barão Vermelho. Entre outros projetos imiscuiu-se na simbólica obra de Jorge Benjor ao interpretar as canções de “A Tábua de Esmeralda”. Movimentos que mostram bem o raio de ação de Broder, mas não o limitam a um único gênero. “Esse disco tem influência do ‘sambalanço’ carioca, um pouco de dub, elementos eletrônicos e samples”, cita a respeito de “Balanço Diferente”.  O leque de parcerias também comprova a disponibilidade de Mario, que, segundo o próprio, abarcam “variados estilos”. O que não é difícil de perceber ao se constatar as presenças de várias tribos reunidas nesse disco.

Sandro Carioca e Valmir Ribeiro, egressos do grupo “Farofa Carioca”, e Bernardo Vilhena, letrista consagrado de músicas de Lobão como “Vida Louca Vida”, “Vida Bandida”, “O Rock Errou”, e outras, que assina, com Broder no disco, a música “Essa Mulher” são provas. A outra delas, talvez a mais significativa, é Elza Soares, entusiasta do trabalho de Mario desde outros carnavais. “Elza é uma mulher incrível e eu tenho muito orgulho de tê-la como madrinha musical, cantar com ela é elevar o meu espírito para outra dimensão e torna minha música ainda mais responsável”, derrete-se. Os dois se conheceram em 2008, e segundo Mario mesmo “não nos separamos mais”. “A letra de ‘Operária Brasileira’ surgiu em um desses encontros na casa dela, foi quando eu descobri que ela também era compositora e não somente a ‘Voz do Milênio’ como relata a BBC de Londres”, entusiasma-se com gratidão Mario.

SAMBA
Além de considerar a internet e os discos digitais como uma “fuga dos formatos tradicionais”, Mario vai além no tema. “É o futuro da música no mundo”, destaca. Ainda sobre “Balanço Diferente”, faz questão de nomear as pessoas que participaram da produção e arranjos. “Os arranjos foram todos feitos por mim com a colaboração mais que especial dos fantásticos Marcos Aryel, Ricardo Silveira, Carlos Trilha, Alex Velley, Marcos Kinder, Jurim Moreira, Marcos Esguleba, Pedro Moraes e o Eduardo Chermont que mixou e masterizou, tornando o som ainda mais incrível”, elogia e divide os méritos. Sobre a importância do samba na sua formação e para o país, Mario, um típico carioca natural da capital, flamenguista criado na zona oeste, onde teve contato com o inventivo Hermeto Pascoal, discorre: “O samba tem uma importância enorme, é nosso cartão de visita pelo mundo, seja ele o samba de carnaval ou o samba de João Gilberto, com sua bossa maravilhosa”, define.

O início de Broder na música foi com uma flauta, presente do pai quando ele tinha apenas seis anos e ainda respondia ao nome de Mario Cesar de Sousa Silva, sem o apelido. Frequento a Escola de Música Villa-Lobos e cogitou até ser padre, em função do gosto pela música gospel. Mas Broder, que complementou a formação na carreira como um autodidata, amava mesmo era a arte, como toda, e não somente a música. “Gosto de ver filmes antigos com Grande Otelo, Zózimo Bulbul. Na linha mais moderna eu curto as obras do Quentin Tarantino e, talvez, eu seja o fã número 1 da ‘Trilogia Star Wars’ e sua trilha sonora perfeita”, incensa. Outra arte que trouxe alegrias a Mario, mas que anda decepcionando-o é feita de bolas e traves. “O futebol influencia minha arte por sua beleza e movimento dinâmico, que é muito parecido com a música que carrego no peito. Eu gosto de jogar uma peladinha uma vez por semana, com os amigos, músicos que assim como eu têm essa paixão”, conta.

BAILE
Uma das músicas do novo disco, inclusive, toca no tema. “Nesse disco fiz uma música que se chama ‘Lateral’. Ela fala sobre um cara que é ruim de bola e vive dando mancada em campo. Acho que nós brasileiros vimos bem isso de perto durante essa Copa desastrosa para nossa torcida”, refere-se à humilhante goleada por 7×1 sofrida para a Alemanha na semifinal do torneio, disputada em Belo Horizonte, no estádio Mineirão, em que os comandados de Luiz Felipe Scolari protagonizaram o histórico episódio. Mas Mario não pretende dar bola para a tristeza mais do que para a alegria, e já adianta novos passos que deixam o sonho do menino aceso, aquele mesmo menino que ganhou uma flauta e hoje toca com voz e coragem o coração de outros meninos e meninas ávidos por música e beleza. “Fazer o show de lançamento desse disco aqui no Rio de Janeiro, com todos os convidados que gravaram e fizeram o meu sonho real, é o meu principal desejo. Demorô Formar o Baile!” convida.

DISCOGRAFIA
2008 – Tubo de Ensaio (com Farofa Carioca)
2011 – Lascamão (com Orquestra Lascamão)
2013 – Ao Vivo na Lapa (com Farofa Carioca)
2013 – Balanço Diferente

Mario-Broder-Entrevista

Raphael Vidigal

Fotos: Divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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