*por Raphael Vidigal
“quer esteja eu louco ou frio,
obcecado por anjos
ou por máquinas,
o último desejo
é o amor” Allen Ginsberg
Não são poucos os que o consideram “o maior guitarrista de todos os tempos”, palavras que cabem na boca de Eduardo Araújo, e que com um ajuste aqui outro ali bem poderiam ser de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jards Macalé ou Chico César – que o homenageou na canção “Lanny Qual?”, lançada em 1995 pela cantora Vange Milliet – todos parceiros de vida e estrada do brasileiro filho de pai russo, mãe polonesa e que nasceu na China, com passagem por Israel.
Toda essa miscelânea ajudou a formar o som de Lanny Gordin, que prepara para 2014 o lançamento de seu quinto disco solo. “O álbum já está pronto e deverá ir para as lojas em maio. Tem 13 faixas de músicas da Tropicália, standards do jazz internacional, 2 músicas free que fiz com o Edgard Scandurra na hora e mais uma minha já conhecida do público, além de outra inédita feita especialmente para este CD”, revela.
PARTICIPAÇÕES
A presença do antigo guitarrista do Ira! não é a única especial no álbum intitulado “Lanny´s Quartet”, alusão à banda formada por Fernando Moura nos teclados, Ricardo Mosca na bateria e Ronaldo Diamante no baixo. Também estarão lá outros convidados, sobre os quais o entrevistado incorre em sinceros elogios. “Foi maravilhoso tocar com cada um deles. O Pepeu Gomes, o Luiz Carlini e o Edgar são parceiros de longa data”, destaca.
Já o remanescente dos “Mutantes” está na vida de Lanny antes mesmo da profissionalização musical. “O Sérgio Dias é meu amigo desde a adolescência, tocávamos tardes inteiras na sua casa, na Pompéia (em São Paulo), quando conheci o Luiz Carlini, que era seu vizinho”, recorda para depois orgulhar-se: “Pela primeira vez estamos juntos num trabalho”. Para completar o time de estrelas das guitarras um nome que entre eles é praticamente um garotão.
SHOWS
“O Frejat sempre me chamou a atenção. Eu o admiro muito. Foi uma grande parceria”, avalia Lanny. A possibilidade de colocar o pé na estrada com o novo trabalho existe, e é provável que haja ainda para este ano shows em São Paulo. A tardia carreira solo foi iniciada em 2001, após um longo período afastado dos holofotes devido a problemas de esquizofrenia agravados pelo uso abusivo de substâncias tóxicas e alucinógenas, especialmente o ácido.
Antes disso ele se imortalizara no rol dos grandes artistas brasileiros, ainda na década de 1970, ao protagonizar arranjos, solos e distorções na guitarra jamais vistos em tempo algum, na China ou no Brasil. Presença marcante em álbuns históricos da Tropicália, como FA-TAL Gal a Todo Vapor, de Gal Costa, e pupilo do maestro Rogério Duprat, também acompanhou Elis Regina, Jair Rodrigues, Itamar Assumpção, e um sem número de artistas desse quilate.
PERSONALIDADE
“Cada um dos artistas com quem trabalhei tinha personalidade própria, e eu procurei me adaptar ao estilo de cada um”, informa, com humildade, o músico. Mas a palavra “personalidade” bem cabe ao estilo do entrevistado. Com formação autodidata é difícil encontrar algo que se aproxime dos sons extraídos por Lanny. “Meu pai me ensinou que eu devia ser original. Eu procurei misturar rock, jazz, blues e ainda juntei a MPB”.
Resultado, conferido pelo músico, é que assim criou “uma nova maneira de tocar”. A voz da guitarra de Lanny é percebida à distância como a das grandes rainhas do rádio. Apesar disto, o artista não é um adepto de tais transmissões. “Eu não ouço rádio, e não sei o que está acontecendo. Continuo fiel aos meus estudos e ao som de Ivan Lins, Edu Lobo, e dos meus amigos Macalé, Toninho Horta, e outros”, confessa ao deixar claro outro aspecto da personalidade.
ÍDOLOS
Essa predileção pelo novo não afasta Lanny Gordin de seus cultos. “Os meus maiores ídolos na guitarra são Larry Coryell e Jimi Hendrix. Aqui no Brasil são Toninho Horta e Heraldo do Monte”, difere. Com Hendrix, o artista afirma ter “descoberto outro universo”, e admite a “influência, sobretudo na distorção que ele usava”. Mas nem só de música pop vive o homem, que também abre o leque de gostos para Chopin e Beethoven.
O pai, pianista popular, foi quem ensinou a Lanny os primeiros acordes, que ele rapidamente transpôs para o violão após não se adaptar ao instrumento clássico, de quem também tomou aulas com a avó, esta uma pianista erudita. Além de lições no idioma russo, outra importante tirada para o resto da vida neste contato com a família extremamente musical foi a de “ser versátil, tocar todo tipo de música, qualquer estilo”, e o menino aprendeu bem.
HARMONIA
Lanny viveu na China até os dois anos, e em Israel até os seis. A partir daí aportou no Brasil para uma viagem sem fim. O pai logo abriu uma boate em São Paulo, a Stardust, que ficou famosa por abrigar, entre outros, nomes como Hermeto Pascoal. “O Hermeto trabalhou lá como pianista e sempre falou que eu era muito talentoso. Lá tocamos juntos por 15 anos e aprendi com ele a mudar a harmonia das músicas para o jeito que eu gostasse”.
Além de considerar Hermeto o “grande inspirador musical”, Lanny também tece loas a outro personagem importante de sua sinuosa trajetória. “Com o Luiz Calanca (dono da “Baratos Afins”) gravei o meu primeiro disco de músicas autorais e a partir daí me lancei como artista solo”, relembra. A este seguiram-se outros trabalhos, em que inclusive contou com a participação vocal de nomes como Zeca Baleiro, Adriana Calcanhotto, Fernanda Takai, etc.
ORIGINAL
O nascimento de um dos malabarismos mais inspirados do guitarrista deu-se também através da intervenção de Luiz Calanca. Intitulado “Projeto Alfa”, Gordin formou uma banda com a qual lançou álbum duplo em 2004, neste que considera seu “melhor trabalho com algumas músicas compostas por mim e outras em parceria, o resultado foi um som muito original”, encerra com utilização da palavra de sua preferência no dicionário de acordes e notas.
Original, aliás, talvez seja a palavra mais usada para definir o som de um dos parceiros mais queridos e exóticos. “O (Jards) Macalé me convidou para fazer o disco com ele e trouxe as músicas. Toquei violão acústico, baixo elétrico e fiz os arranjos. Fui para o Rio de Janeiro naquela época e gravamos todos juntos, eu ele e o Tutti Moreno (baterista). O disco saiu exatamente como planejamos”, garante ao rememorar a feitura do primeiro álbum solo de Macalé, de 1972.
CRIAÇÃO
Músico versátil, original, cheio de personalidade, como aprendeu com o pai, a avó e os grandes mestres nacionais e internacionais da guitarra, a relação de Lanny com cada parceiro também variava. “O Gil, a Gal e o Caetano me traziam as músicas para que eu fizesse os arranjos. Com a Elis eu fiz só um show. Com todos eles o clima era sempre alegre e de muito trabalho. Foi uma época intensa e de muita criação na minha vida como guitarrista e músico”.
Mas enganam-se vocês se pensam que Lanny, sempre elétrico e na guitarra, está parado. “Eu tenho um grande projeto, que está em pré-produção, para 2014, e que divulgarei nos próximos meses. Pretendo fazer muitos shows e continuar participando da ‘Mostra de Guitarras’ e outros que virão”, aguardem. Afinal Lanny está sempre experimentando. “Eu posso falar da importância disso na música.”
FANTÁSTICO
E na seara onde melhor entende do riscado, canta a pedra sem se esquecer do orvalho. “Na minha música esses recursos, juntamente com a busca contínua pela originalidade, são importantes e fundamentais. Eu acredito na evolução musical de cada artista até cada um chegar à própria auto realização”. Se preparem, Lanny Gordin, o maior guitarrista de todos os tempos, ainda quer se sentir: mais realizado. Em todo caso, quando se fala do fantástico mundo da guitarra, o exagero vale.
DISCOGRAFIA SOLO
2001 – Lanny Gordin
2004 – Projeto Alfa, vol. 1 e 2
2007 – Lanny duos
2014 – Lanny´s Quartet (previsto)
Fotos: Divulgação.
6 Comentários
Aí sim! Estou sempre no aguardo para qualquer coisa que o Lanny possa estar envolvido. Seja álbum ou show ou entrevista!
Um pouco de cultura
Sinceramente, concordo com todas as palavras da matéria. Lanny é mais do que inspiração, é a musicalidade pura
Bela matéria,!!!!
Um verdadeiro mestre, pessoal e profissionalmente!
Lanny Gordin, o maior! Vida longa!
Muito boa a entrevista do Raphael Vidigal com o genial Lanny Gordin.