Entrevista: Funkeiro MC Papo vai da Piriguete ao Texas

“quero gozar da comida: quero gozar da bebida: quero ser bom quero ser amante quero ser amigo mas não consigo: sobre o tatami, os gusanos me servem de coberta.” Wally Salomão

“Pulsos e camadas sutis que se acumulam, como um pano de fundo misterioso, uma camada de suspense que é liderada por um ponto minimalista, sinuoso, causando uma sensação estranha, um ritmo deslizante, solto, um tanto imprevisível”. Com essas palavras, o pesquisador e jornalista Gabriel Albuquerque, natural do Recife, procura desvendar a marca de um gênero que, não raro, é tachado de pobre, violento e pornográfico. Um dos precursores do funk mineiro, MC Papo, responsável pelos hits “Piriguete” e “BH É O Texas”, analisa o cenário atual do gênero na cidade. Confira a entrevista completa na íntegra abaixo.

1 – Como vê o atual cenário do funk em Belo Horizonte e o que mudou desde que você começou para agora? Por outro lado, o que permanece desde o início?
O funk mineiro está mais sólido, o público cresceu consideravelmente desde a minha época e o movimento se profissionalizou bastante desde então. O que permanece é a paixão com o ritmo, o prazer de representar a própria personalidade e a cultura da periferia através da música.

2 – Qual é a característica que diferencia o funk produzido em Belo Horizonte e sua região metropolitana daquele produzido em outras partes do país, como Rio e São Paulo?
Na época em que comecei o que nos diferenciava era a musicalidade enraizada no freestyle music, ou miami, como alguns chamam, e letras elaboradas sobre problemas sociais e o cotidiano da favela. Hoje em dia a molecada está desenvolvendo um estilo que alguns chamam de “minimal”. As músicas são dançantes, sensuais, mas marcadas por várias pausas na percussão.

3 – A que se atribui o sucesso do funk em Belo Horizonte e como ele se relaciona com a população nas zonas norte e sul? Há muita diferença?
O funk não é novidade em BH, já temos uma geração de quarentões e até cinquentões no nosso movimento. A medida que nosso funk foi trocando as batidas americanas por percussões mais brasileiras e afro ele dominou tudo. Acho que a relação das pessoas com o funk está bem homogênea, mas a intensidade com que a pessoa se envolve com o movimento é individual e independe da região da cidade de onde ela vem.

4 – Porquê, na sua opinião, o sub-gênero funk consciente tem perdido espaço para o funk chamado de putaria?
A nova geração gosta das batidas mais afro, mais brasileiras, e o funk consciente ficou preso naquele estilo freestyle, miami. É tudo uma questão de ritmo.

5 – Qual a relação do funk com o meio social de onde ele emerge e o que ele traz de positivo para essas pessoas que costumam vir da periferia?
O funk pode ser visto como uma foto ou espelho da juventude, mas também como um megafone. Ele dá voz para aqueles que nunca são ouvidos. Para alguns ele é uma válvula de escape, para outros ele se torna uma fonte de força e auto-estima. E para a comunidade num geral o funk já se tornou um mercado, uma fonte de renda.

6 – O que te inspira a compor e como é o seu processo? Tem algum método específico? Quem são os seus grandes ídolos e inspirações na música?
Tudo. Sempre escrevo sobre coisas que sinto ou vejo. Não tenho um método, as vezes decido que vou escrever e começo a rimar, e as vezes simplesmente tenho um insight de uma frase ou refrão do nada, nesse momento tenho que abandonar o que estiver fazendo e escrever. Eu cresci ouvindo MC Bob Rum, Wiliam e Duda, Coyote e Raposão, MC Marcinho e vários outros, mas na escrita eu sempre me inspirei muito no Mano Brown e no Booba.

7 – Qual o segredo do sucesso do funk e o que ele tem a dizer de mais importante sobre os dias atuais?
Um ritmo irresistível e uma vulgar sinceridade. O que ele tem a dizer? Depende de quem estiver com o microfone na mão.

Raphael Vidigal

Fotos: Página Oficial/Divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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