Entrevista: Aos 70 anos, músico Tavito revê sua trajetória

*por Raphael Vidigal

“Eu quero a esperança de óculos
E meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal” Tavito & Zé Rodrix

Aos 13 anos de idade, Luís Otávio Carvalho ganhou o seu primeiro violão. Conhecido desde a infância como Tavito, o compositor aprendeu o ofício de maneira autodidata, participando de festas e serenatas na capital mineira. Autor de clássicos como “Casa no Campo” (com Zé Rodrix) e “Rua Ramalhete” (com Ney Azambuja), ele partilhou da convivência com nomes fundamentais do Clube da Esquina, como Milton Nascimento, Toninho Horta e Nelson Angelo. Nascido em Belo Horizonte, o músico destaca os momentos mais especiais de suas sete décadas de história.

Mineiro
“Em 1957, tive a minha primeira experiência artística, que eu chamo de ‘como ser castigado pela música’. Fui punido e perdi uma medalha rara de primeiro lugar por cantar, aos berros, no ônibus escolar”. Em 2014, o músico lançou o seu mais recente disco solo, “Mineiro”, que traz na capa uma foto de Tavito ainda criança. “É um disco feito em cima de músicas que eu ouvia em BH quando era menino”. O trabalho apresenta parcerias com Zé Rodrix, Aldir Blanc, Luhli e Renato Teixeira.

Chega de Saudade
“Vivi vários momentos importantíssimos entre 1958 e 1967. Foi a primeira vez que escutei a música ‘Chega de Saudade’ (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes), canção modificante de destinos, interpretada pelo Trio Nagô, numa versão incrível. Além disso, tive a inesquecível sensação de tirar os primeiros acordes no violão em 1961. Logo em seguida, em 1964, sofri o grande impacto com os The Beatles. Sem falar que, já em 1965, fiz meus primeiros shows com o Vinicius de Moraes”.

Som Imaginário
“No final de 68 veio a minha mudança para o Rio, conseguida debaixo de críticas paternas e sociais de todo tipo. Em 70, ingressei no Som Imaginário (formado por Wagner Tiso, Zé Rodrix, Fredera, Luiz Alves e Robertinho Silva), que fundia rock progressivo com a música mineira. Acompanhamos shows e fizemos discos com o Milton Nascimento. Em 71, nós saímos em turnê com a Gal Costa. E, em 72, vem a gravação do álbum “Clube da Esquina”, um marco na vida musical brasileira”.

Casa no Campo
“No trajeto de ônibus de Brasília para Goiânia durante a turnê com a Gal em 71, o Zé (Rodrix) escreveu a letra dessa música olhando a paisagem pela janela. Era tudo muito bucólico, pouco asfaltado. Ao chegar no hotel ele me mostrou. Fiz a melodia enquanto ele estava no banho. Ele a inscreveu no Festival da Canção de Juiz de Fora e ganhamos o primeiro lugar, aí fomos para o Festival Internacional da Canção e a Elis (Regina) estava no júri. Gostou tanto, que gravou em 72, com um arranjo magnífico do César Camargo Mariano. ‘Casa no Campo’ se tornou um clássico da música brasileira, ela representa um anseio da juventude que não aguentava mais a violência da ditadura, foi como um bálsamo para todos nós”.

Rua Ramalhete
“Em 1979, eu gravei o meu primeiro disco solo. Nele, lancei ‘Rua Ramalhete’, que é a música do meu coração, porque conta uma experiência de vida. Sempre achei o nome da rua uma coisa poética, ela tinha só um quarteirão no bairro da Serra. Eu e Toninho Horta, a gente ia lá, adolescente, paquerar as meninas da nossa idade, de 14, 15 anos. A gente jogava vôlei, fazia festinha, ouvia Beatles na vitrola e dava uns amassos. Foi uma canção toda feita em cinco minutos, letra e música”.

Jingles
“No fim dos anos 70, fundei a Zurana, uma superprodutora de jingles e trilhas comerciais. Lancei quatro discos solos. Paralelamente, sedimentei a carreira publicitária (é de Tavito o famoso jingle ‘Vem Pra Caixa Você Também’). Em 1986, nasce Julia, homônima da mãe de John Lennon e minha única filha”.

Tudo
“De 88 a 97 vivi uma significativa retirada da vida artística em detrimento da vida publicitária, com milhares de peças criadas e produzidas. Em 2003, voltei aos palcos, convidado pelo músico mineiro Affonsinho, e em 2006, veio a minha mudança com armas e bagagens para São Paulo. 2008 teve o lançamento do CD ‘Tudo’, em 2016, da coletânea “A casa no começo da rua” (com 15 músicas de Tavito), além da minha volta plena aos palcos do Brasil. E vamos em frente, eu estou só começando”.

Tavito fez parte do grupo Som Imaginário

Fotos: Divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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