Dança: Frevo

Tradição pernambucana segue irrestrita!

Festa brasileira

Frevo guarda chuva, solta o sol na praça. Bonecos de Olinda, pernas de pau, os canhões são braços, que acenam aos anões, donos do espetáculo, borrifando alegria, pecado, gíria, molecada em vestes, despida.

Alceu Valença e Antônio Nóbrega, Capiba e essa gente monta, se esconde na moita, na mata, meio dia, noite inteira, bebedeira, capim e cachaça, algibeira, tem gim e alaga de inundação e prece o verso do poeta, profeta das horas intermináveis. O Frevo é a festa que nunca acaba.

“Voltei, Recife!
Foi a saudade que me trouxe pelo braço
Eu quero ver novamente ‘Vassoura’
Na rua abafando
Tomar umas e outras e cair no passo!”

Na orgia, no banquete, no restaurante do chefe, no palacete do mendigo, no sexo de todos os lados, ambos os sexos, freiras, padres, donzelas castas, galanteadores desleixados. Euforia e sombrinha, sandália e salto, tudo cabe e salta, no céu de fevereiro, o Frevo é festim, explode e reacende a manhã, amanhã.

Tem passo ensaiado? Tem sim, madame! Tem improvisado? Também, meu senhor! E você, minha criança? Não pergunta nada? De nada queres saber? Ou já tem a resposta de tudo, do todo que é lauda? Corre e assim me responde, pessoa não submetida aos ensaios, normas e cajados da sociedade, não quer saber o saber palavreado, palavrório dispensável, só quer, e ele quer e ele sanha, como o Frevo que é sarda, é sarna e sana, pra se coçar!

“Bombas na guerra-magia
Ninguém matava, ninguém morria
Nas trincheiras da alegria
O que explodia era o amor!”

Por isso dança, dança, dança, pára de ler e querer saber e perguntar, vá dançar! O Frevo que é rápido, é ágil e tácito, está onde ninguém está, não no fácil, no frágil do corpo humano rebolando a inquietação que provém diretamente deste veículo embriagado, mal comportado, incorreto e não politizado: coração.

Bloco do Prazer (1979, frevo) – Fausto Nilo e Moraes Moreira
O compositor Fausto Nilo conheceu os integrantes do “Pessoal do Ceará” ainda na década de 70, e desde então passou a ser gravado por cantores como Fagner e Belchior, e mais tarde, Chico Buarque, Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Geraldo Azevedo, e outros. No ano de 1979, o “Trio Elétrico Dodô e Osmar”, banda criada pelos inventores do Trio Elétrico na Bahia, lançou no carnaval a música “Bloco do Prazer”, parceria de Nilo com o novo baiano Moraes Moreira. O frevo, em ritmo acelerado, é uma conclamação desenfreada à alegria e à festa. Gravada por Nara Leão em 1981, tornou-se sucesso nacional na voz de Gal Costa, um ano depois. Era apenas o início do desfile daquele cearense de Quixeramobim.

Pintura frevo

Raphael Vidigal

Pintura: “Frevo no Carnaval”, de Susan Joarlette.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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