Crítica: “MY NAME IS NOW” explora impacto imagético da voz de Elza Soares

“O ritual sincopado das gargantas
Tinha o ruído oco de umas águas
Deitadas bem de leve em algum cântaro.
Todo o espaço se enchia desse canto
E atraía umas aves, outras tantas.” Hilda Hilst

My Name Is Now, Elza Soares.

Um dos diferenciais do documentário dirigido por Elizabete Martins Campos em reverência a Elza Soares é que cabe à cantora conduzir a própria história através das palavras, cantadas ou faladas, às quais se acoplam imagens selecionadas pela equipe que tornam ainda mais vigorosos os discursos. Esse é um dos trunfos, mas não é o único. O roteiro, escrito a quatro mãos por Elizabete e Ricardo Alves Jr., longe de ser cronológico, tampouco procura tornar hermética personagem tão popular. E há os recursos cênicos em favor da história. Elza, de frente para um espelho, permite-se captar e absorver na intimidade, ultrapassando formalidades e superfícies, mesmo, e paradoxalmente, quando elabora e oferece uma performance de si, dando ao espectador a possibilidade de apreender características como a vaidade, a carência e a solidão, além das supracitadas força, determinação e coragem.

Pela qualidade habitual do repertório de Elza Soares, a trilha sonora, escolhida por ela mesma em parceria com os demais envolvidos no filme, outro ponto que certamente a deixou confortável e acessível frente às câmeras, esbanja. Mais do que isto, as canções falam tanto ou mais do que quando Elza discursa, tornando nítido o quanto a cantora interpretou sua vida através das músicas e que a entrega no palco é fruto, sobretudo, dessa imensa identificação. Certamente a maior, dentre as inúmeras forças do longa-metragem, reside em detectar e saber explorar não objetivamente, mas de maneira subjetiva e, por isso mesmo, profunda, o impacto imagético causado pela voz de Elza Soares, como ela diz, “negra, mulher, pobre” que só pensa no agora, tradução concedida ao título. De maneira inventiva e ousada, ao retornar a tema já tratado nesse formato, “MY NAME IS NOW” também volta o cinema para sua origem clássica: a de mostrar, exibir e, por fim, revelar.

My Name Is Now, Elza Soares.

Raphael Vidigal

Fotos: Paolo Giron; e Duda Las Casas, respectivamente.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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