Crítica: Eduardo Dussek domina palco e plateia com repertório misto

“Nada acabará, grita o matagal!
Nada ainda começou…” Eduardo Dussek & Luiz Carlos Góes

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Formado pela escola do teatro “besteirol” na década de 1980, Eduardo Dussek recusa-se a revelar a idade, “algo entre os 50 e a morte”, debocha, figura de linguagem com a qual se esbalda e cativa o público que assistiu à apresentação do artista na sala Juvenal Dias, pertencente ao Palácio das Artes, como encerramento do 2º Inverno das Artes, na última segunda-feira. Com a mistura característica de humor e música, e pleno domínio tanto do instrumento, um luxuoso piano de cauda, das obras e até das reações do público, com trajetória calcada na irreverência que lhe aperfeiçoou, inclusive, o dom do improviso, Dussek presenteou os fãs também com um repertório misto, indo com desenvoltura do romantismo ao escracho, ou, como gosta de dizer, as “baixarias”. Em comemoração aos 40 anos de carreira, desfilou sucessos em versões renovadas, como “Rock da Cachorra”, ao estilo bossa nova, e “Cantando no Chuveiro”, interpretada em inglês. Não faltaram piadas e sátiras.

O grande mérito de Eduardo Dussek, influenciado por nomes como Lamartine Babo, Carmen Miranda, e cujo único comparativo nacional tanto em termos musicais quanto teatrais é a figura não menos folclórica e atraente do mineiro Ivon Curi, natural de Caxambu, interior das Minas Gerais, é, por isso mesmo, ter sempre se destacado de seus pares, ao cunhar para si um gênero pessoalíssimo e único. Toda canção de Dussek tem um tom que só cabe na sua boca, a típica “embocadura”, embora regravado por artistas do porte de Ney Matogrosso e Maria Bethânia e tendo ao seu lado parceiros como Luiz Carlos Góes, aquele que criou suas melhores letras, e Isolda. Pois quando Eduardo Dussek canta, à sua maneira meio falada, a música adquire contornos que só são ali possíveis ou, por sua perspicácia, descobertos e incensados, como acontecia com Ivon Curi. O caso é que entre gracejos, até mesmo longos e arrastados, nunca se perde o ritmo, o fôlego, a respiração, sempre na ponta da língua deste trôpego de capricórnio pronto a desafiar e desafinar o bom comportamento, vergonhas e caretices. Dussek libera geral. E liberta o público.

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Raphael Vidigal

Fotos: Arquivo e Divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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