Crítica: “A última vida de um gato” presta importante homenagem a Dedé Santana

“Aprendera no Circo, há idos, que a palavra tem
que chegar ao grau de brinquedo
Para ser séria de rir.” Manoel de Barros

Dedé Santana protagoniza "A última vida de um gato"

Associado eternamente ao humorístico “Os Trapalhões”, Dedé Santana não parece se ressentir disto, pelo contrário, demonstra orgulho e gratidão. Artista de circo, antes do estouro nacional fez pequenas participações em filmes como, por exemplo, “A Espiã Que Entrou Numa Fria”, ao lado do intérprete de Zé Bonitinho. Acostumado a servir de “escada” para os companheiros – ou seja, aquele que prepara terreno para que outro se consagre com a piada – na montagem dirigida por Victor Peralta com texto de Alexandre Ribondi é Felipe Cunha quem faz o “garçom” para Dedé marcar os gols. Fica claro desde o início que, mais do que propor um tema, toda a dramaturgia serve, principalmente, para reverenciar e homenagear o protagonista, tornado recentemente “Embaixador do Circo no Brasil”. Aos 80 anos no palco o ator reflete sobre morte, perdas, saudades. A construção do enredo permite que se explicitem os recursos e a qualidade dramática que, ao longo da carreira, lhe foi tantas vezes subestimada. Acerto que torna ainda mais importante este salve. “A última vida de um gato”, como supõe o título, admite que o artista está no passo final da longa caminhada, e a hora é de realizar uma justa retrospectiva.

Fatos que perpassaram a vida de Dedé – como a perda de um filho – são aludidos; também menções a emissoras aonde o artista trabalhou aparecem. O espetáculo surpreende por não se ater ao humor de resposta mais imediata, embora não resista a contemplar a plateia com visões estereotipadas que ao longo dos anos garantiram gargalhadas fáceis, fruto da formação cultural do Brasil, e acaba por assentir ao machismo, principalmente. No entanto, há vários momentos em que o humor flui com facilidade sem precisar apelar a condições impostas pelo passado. Dedé tem tempo para comédia, uma dicção muito própria, e atesta sua qualidade de ator ao segurar muito bem, com equilíbrio e precisão, as cenas dramáticas que, sem esbarrar na pieguice, conseguem ser tocantes. Sobretudo porque está em cena uma das personagens, supra-associada ao seu intérprete, de caráter mais afetivo junto às nossas memórias e recordações. E a peça surge afinal para celebrar a vida, não apenas de Dedé, mas a vida como um todo, a despeito de suas perdas irreparáveis. Luz, figurino e cenário se apresentam corretamente para essa missão, com simplicidade. Porém a música é quem mais sublinha as emoções.

Ficha técnica
Dramaturgia de Alexandre Ribondi.
Direção e concepção cenográfica de Victor Peralta.
Com Dedé Santana e Felipe Cunha.
Iluminação: Felipe Lourenço/Figurino: Antônio Guedes/Trilha Sonora: Felipe Cunha/Maquiagem: Cezar Marquez.

Eterno trapalhão Dedé Santana volta ao teatro

Raphael Vidigal

Fotos: Juliano do Carmo.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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