Camila Felix: “Sempre vivi em cima do palco”

*por Raphael Vidigal Aroeira

“ reinar, dançar num labirinto,
Viver mil anos num momento.
Estado de York ou Paris –
Nem nada principia ou finda” Ezra Pound

O espanto não foi gratuito quando a bebê, que só engatinhava, ficou de pé. Quem conta a história é o pai de Camila Felix, 30, mas ela sabe que deu “os primeiros passos em cima do palco”, o que não é força de expressão. “Simplesmente levantei e andei”, recorda. O cenário era uma colônia de férias no interior de São Paulo. “A arte está em minhas primeiras memórias, vivi em cima do palco”, salienta Camila. Atriz e bailarina, ela começou a ter aulas de dança aos 4 anos, e, logo em seguida, ingressou em um grupo de teatro. A decisão de qual faculdade cursar gerou dúvidas, mas o apoio da família para “seguir o coração” foi fundamental.

Na fila da prova para o vestibular de Teatro da UFMG, ela escutou que “ia morrer de fome”. “Aquilo ferveu meu sangue, o balde de água fria que me jogaram saiu pela culatra. Pensei: ‘é isso mesmo, e eu não vou morrer de fome’. A gente trabalha duro para que isso não aconteça”, garante Camila, que admite que a frase de desestímulo sempre vem ao seu ouvido e a “incentiva a correr atrás”. “Sabia que seria uma luta, mas não deu para fugir, está no meu sangue”, define Camila.

Ao longo de sua carreira, que começou profissionalmente em 2015, somente no ano passado Camila Felix teve a oportunidade de trabalhar com patrocínio, como atriz convidada do Grupo Oficcina Multimédia, ao encenar a premiada versão para “Vestido de Noiva”, de Nelson Rodrigues (1912-1980). “Vivi algo atípico e dei muito valor a isso, pude ter a noção do que é mergulhar de cabeça em um trabalho e receber dignamente, mas é raro. Na maioria das vezes, as condições não são as ideais, o que é muito desgastante”, analisa Camila. Ela considera que Belo Horizonte oferece duas saídas para se viver de arte. “Abrir o leque de opções ou empreender”, diz ela, que também sente falta dos teatros de médio porte na capital.

“Ou são os espaços para quem consegue mover grandes massas ou os muito pequenos, que apenas a própria classe artística acessa, e aí dá um desespero de não conseguir alcançar a população, tocar as pessoas”, lamenta Camila. Ela não esconde que, como artista independente, sempre pensa em procurar outra profissão, o que ela atribui à “instabilidade, principalmente financeira”. A ideia de “ter um plano B” a persegue diariamente. “Mas nunca abandonar a arte, que constitui quem eu sou”.

Para se virar, Camila atua em musicais infantis, espetáculos de dança contemporânea, ministra aulas, recebe encomendas para coreografias e até já produziu uma simulação realística para escolas de medicina. “O que me leva a não desistir quando bate o limbo é lembrar do estar em cena, do retorno do público. Sou atriz de teatro, então a comunicação com a plateia é instantânea. Essa troca de energia me alimenta”, avalia Camila, que alerta para o “risco da romantização”.

“É uma profissão como outra qualquer, precisamos ganhar salário, reivindicar nossos direitos. O pensamento de se fazer a qualquer preço é bem perigoso, temos que ter o pé no chão também”, sustenta Camila. Ela tem planos alvissareiros para o segundo semestre, como uma peça inédita com Gláucia Vandeveld, Cláudio Dias e Adyr Assumpção, cujos ensaios virtuais começaram na pandemia, e um projeto com o Consulado Italiano, que visa celebrar os 150 anos de imigração no Brasil.

Foto: Flávio Tavares/O Tempo.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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